Em 11 de novembro do último ano, o Nicolau Alayon recebeu um jogo peculiar: Audax e Grêmio Osasco decidiam lugar na final da Copa FPF. A peculiaridade é que os dois times já tinham, naquele momento, um mesmo dono. Que também possui mais dois clubes (Audax Rio e Osasco Futebol Clube) e certa megalomania por futebol.

É a história de Mário da Silveira Teixeira, o seu Mário, mas que também pode atender por Roman Abramovich de Osasco, assim batizado pela Revista Placar.

Por R$ 30 milhões, seu Mário comprou o Audax Rio e o Audax São Paulo das mãos do Grupo Pão de Açúcar, em setembro, e abriu uma questão importante especialmente no futebol paulista: como proceder em confrontos como o das semifinais da Copa FPF? Como evitar facilidades? O mesmo duelo entre Audax SP e Grêmio Osasco, curiosamente, esteve perto de também ocorrer no mata-mata da última Copa São Paulo. 

A Federação Paulista, segundo apurado pelo Terra, também se preocupou com a possibilidade de resultados combinados. Um acordo de cavalheiros com o presidente Marco Polo Del Nero, porém, definiu que a prioridade em 2014 seria do Audax (na Série A-1), agora chamado de Grêmio Osasco Audax. 
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Nos últimos meses, um processo de transição ocorre para diminuir a força dos dois clubes mais antigos pouco a pouco. O Osasco FC não deve nem disputar a próxima edição do Campeonato Paulista e, no máximo, vai manter duas categorias nas divisões de base. Já com o Grêmio Osasco, a tendência é que o clube saia de cena pouco a pouco. 

Efetivado nos profissionais depois de uma boa campanha no último Campeonato Paulista Sub-20, o treinador Zé Augusto (ex-Corinthians) já foi avisado de que não haverá investimentos e só vai trabalhar com garotos na Série A-2. É o jeito de evitar a promoção à elite. 

O Grêmio Osasco perdeu seu principal dirigente, Vampeta, agora à frente do Grêmio Audax Osasco. Mas não é só... 

Também deixou de ser prioridade no uso de suas instalações: para treinar e jogar em casa, só quando não coincidir com a agenda do  Audax. Nas demais situações, o velho Grêmio vai precisar percorrer 20 quilômetros e utilizar a sede do Nacional, clube paulistano que firmou parceria. 

As movimentações seguintes à negociação de R$ 30 milhões, em setembro, evidenciam que o interesse não é de manter várias equipes. Boa parte dos funcionários dos tempos do Grupo Pão de Açúcar se demitiu ou foi demitida. Alvo do setor imobiliário, o moderno e valioso Centro de Treinamento que era utilizado pelo Audax será cedido temporariamente à Fifa até a Copa do Mundo e depois deve ser vendido. 

Quanto aos jogadores, uma espécie de desmanche foi feito pelos antigos proprietários do Audax. Os nomes mais promissores das divisões de base foram vendidos para Atlético-MG (Vítor Hugo e João Pedro), Santos (Jorge Eduardo), América-MG (Caio Dantas), Palmeiras (Yuri), Flamengo (Romário) e Coritiba (Rafael Veiga), entre outros. Quem permaneceu, tem os direitos repartidos: em caso de vendas no primeiro ano, os novos proprietários ficam com metade do valor. 

Os fatos seguintes à negociação evidenciam que o principal produto comprado pelo Grêmio Osasco, na prática, foi a vaga na primeira divisão paulista. "Era uma questão de tempo chegar à elite. Mas o seu Mário viu uma oportunidade de adiantar esse processo", cita um dos funcionários presentes no Grêmio desde a fundação, em 2007.

Procurada pelo Terra, a Federação Paulista informou por e-mail: "existe proibição legal para que equipes pertencentes ao mesmo ente disputem a mesma competição". Disse também que não reconhecia nas semifinais da Copa FPF qualquer infração ao regulamento, pois Audax e Grêmio Osasco ainda não tinham legalmente o mesmo proprietário. Em setembro, porém, as partes já confirmavam a transação. 

Por fim, a Federação Paulista também afirmou que trabalha para coibir a venda de vagas em suas competições. Disse a entidade: "uma equipe só pode manter sua posição na série em que se encontra desde que mantenha a mesma inscrição no CNPJ".