A paisagem do Rio São Francisco na orla de Penedo não é a mesma há algum tempo. Assim como é visto em outros pontos, ao longo do curso do rio entre os estado como Bahia e Sergipe, na cidade ribeirinha os bancos de areia tomaram o cenário e deram espaço a prainhas isoladas no meio do rio.  

Além do grande impacto ambiental, a redução da vazão do rio nas usinas hidrelétricas tem gerado grande prejuízo para os ribeirinhos, que retiram daquelas águas o sustento da família. Porém, diante do cenário o biólogo Gabriel Le Campion garante que o grande problema enfrentado pelo rio é o desmatamento em suas nascentes e nos olhos d’água, o que se tornou uma situação irreversível.

De acordo com o especialista, mesmo que a vazão seja normalizada nas hidrelétricas, a tendência que é o rio voltar a secar novamente, já que as águas irão desaguar no mar. Segundo ambientalistas, o Rio São Francisco enfrenta a pior seca dos últimos 12 anos e a pouca chuva em seus afluentes fez com que o volume de água no lago de Sobradinho, na Bahia, reduzisse a sua capacidade para pouco mais de 30% da capacidade.

“Há 50 anos o professor Vasconcelos Sobrinho falou que o rio iria secar e ninguém deu importância. Agora estamos vendo o resultado. A situação do Rio São Francisco é irreversível”, afirmou o biólogo

Campion explicou que a tendência é que o São Francisco se torne um rio temporário, ou seja, fique cheio durante o período de chuvas e seco durante a época de estiagem.  Ele afirma que o rio ainda não chegou à situação de total seca devido ao seu porte.

 “Se fosse um rio de um porte bem menor com certeza já estaria seco”, acrescentou Campion.

A população

O estudante de Turismo e morador de Penedo, Marcos Felipe Alves traça um lembrança não muito antiga do tempo que em a travessia no rio era feito sem nenhuma preocupação. “Há pouco tempo fui fazer uma travessia em uma lancha pequena e um pescador me falou que se o rio baixar mais 20 centímetros, ninguém vai conseguir mais passar de barco. Foi todo um conjunto que fez ele ficar assim”, disse.

Alves afirmou que a pouca vazão dadas pelas usinas hidrelétricas tem contribuído para o pouco volume de água na parte do Baixo São Francisco. “Já houve época em que o rio conseguiu entrar 13 quilômetros mar adentro e hoje quem está avançando é o mar. Teve dias de o rio não ter forças e o mar chegar até a porta dos moradores”, destacou.

Com uma visão mais ampla, Alves ressalta que a responsabilidade para sobrevivência do rio deveria ser sentida por todos, tanto pela população, responsável pela poluição e desmatamento, quanto pelo Governo Federal, que deveria tomar medidas para evitar a deteriorização com aplicação de projetos de saneamento básico e revitalização das partes assoreadas.

“Há alguns dias participei da apresentação de um projeto do Governo do Estado para incentivar o turismo de Delmiro até Piaçabuçu, por onde passa o rio, mas em momento nenhum via ninguém apresentado algum projeto para revitalizar o rio. Falar hoje em sustentabilidade é um pouco difícil, pois se continuar dessa forma o rio não terá como se sustentar nem ter mais força para se recuperar”, lamentou o estudante.