O empresário Walmer Silva- preso nesta quinta-feira (15) por agentes da Polícia Federal- é citado em uma investigação, na Procuradoria Geral da República- que envolve uma tentativa de assassinato ao juiz Marcelo Lemos Tadeu. O plano seria arquitetado por um desembargador, do Tribunal de Justiça.
A morte de Marcelo Tadeu estava encomendada para o dia 3 de julho de 2009- uma sexta-feira- na avenida João Davino, em Maceió.
A arma, uma pistola ponto 40, de uso exclusivo da policia, foi retirada do 59o Batalhão de Infantaria Militar- a sede do Exército alagoano. Ela estava guardada junto a outras, em um paiol do Tribunal de Justiça. Constava em processo como prova de outros assassinatos. O preço do crime: R$ 20 mil. Após o crime, a arma voltaria ao Exército. E, ficaria como até hoje está: escondida. Nunca foi feito exame de balística.
Às 19 horas, o dia 3 de julho de 2009, o juiz Marcelo Tadeu estava com a família no estacionamento de uma farmácia, na avenida João Davino. Seguiria para casa, no bairro de Guaxuma. Próximo a ele, o funcionário da empresa Qualitec- que prestava serviço para o Grupo Empresarial OAS- o advogado Nudson Harley Mares de Freitas. Uma moto parou próximo a Nudson. Tiros. Ele morreu no lugar de Marcelo Tadeu. Morreu porque foi confundido.
A documentação foi remetida a Brasília porque nela consta, textualmente, o nome do desembargador, Walmer e o executor do crime: Wendell Guarnieri.
Por que um desembargador estaria interessado na morte de um juiz? Marcelo Tadeu Lemos Oliveira, o magistrado, tem um histórico diferente da maioria dos integrantes do Judiciário local: ajudou a colocar, atrás das grades, integrantes da Gangue Fardada; à frente da Vara de Execuções Penais, extinguiu o regime semi aberto porque ele era “de fachada” em Alagoas; fechou o presídio São Leonardo por ele apresentar riscos aos presos; denunciou um usineiro na morte do tributarista Sílvio Vianna. E, na 4a Vara Cível de Maceió- que cuida também de processos de usineiros- lavrou decisões incômodas, como tomar bens dos milionários do setor do açúcar e álcool.
Mas, as atividades como juiz eleitoral no sertão trouxeram riscos maiores. Nomeado pelo desembargador Antônio Sapucaia (hoje aposentado), Tadeu cancelou doze mil títulos eleitorais e acusou um vice prefeito de ter diploma falso. Marcelo Tadeu cassou o mandato do prefeito-irmão do desembargador- e do vice. Eles recorreram ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e perderam. Reverteram a decisão no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mas, por causa do tempo, o prefeito só ficou dois meses na Prefeitura.
Prolatadas as decisões, assinou a própria sentença de morte. Mexeu com usineiros, parentes do desembargador, familiares de poderosos. Juntos, os setores queriam matá-lo.
“Como supostos interessados na sua morte, estariam usineiros que teriam perdido bens por força de decisões suas, além do aparente e surreal interesse de um membro do poder judiciário de Alagoas”, diz um trecho do documento encaminhado, pelo MPF de Alagoas, à Procuradoria da República, em Brasília.