Dia 11 de agosto de 1827, dia da instalação do primeiro curso jurídico no país na cidade de Olinda/PE (os paulistas juram de pés juntos que foi em São Paulo no largo de São Francisco) foi dedicado especialmente aos advogados.
Todavia, sem pessimismo hiperbólico posso afirmar que nós, que advogamos de verdade, não somente por ostentarmos uma carteira após aprovados no exame da OAB, mas por ralar a fivela no balcão dos fóruns da vida, não temos absolutamente nada a comemorar.
Pior, a continuar assim comemoraremos - ou melhor - lamentaremos o dia da profissão no dia de finados, pois a advocacia agoniza a olhos nus. O que antes era motivo de alguma honra e de dignidade social hoje virou motivo de pilhéria. E muitas vezes passada em horário nobre nas novelas globais.
A profissão que nasceu liberal para lutar por liberdade, pelo estado democrático de Direito e por garantir direitos aos cidadãos, hoje se desnatura e por vezes se confunde com trabalhos de meros despachantes ordinários face ao esquizofrênico sistema de justiça deste país e ao esquecimento oportuno de nossa entidade de classe que parece ter coisa mais importante a fazer do que proteger as prerrogativas e os direitos da profissão.
Advogados jovens recebendo salários de fome em grandes bancas que se aproveitam da oferta infindável de profissionais no mercado saturado em face das mais de 1500 faculdades de Direito país afora e da ausência de regulamentação de um piso decente da categoria (proposta minha neste sentido no CFOAB em 2012 foi rejeitada pelos nobres conselheiros federais). Advogados com mais de 30 anos de profissão sem previdência privada tendo que trabalhar até que a morte os alcance. Advogados vivendo com problemas de estresse profissional, ausência de descanso regulado pelas leis do país, prazos que só existem para os advogados, ausência de planos de saúde profissional, entre tantos outros problemas que se avolumam e que só são lembrados a cada 3 anos nas eleições da categoria, mas logo depois, como que em um autismo seletivo, deixados para lá.
A afronta constante aos honorários advocatícios que cada vez se tornam mais simbólicos e muitas vezes mais aviltantes do que gorjeta de garçom em restaurante self-service.
Advogados constantemente afrontados na labuta diária em direitos mínimos de ter vista dos autos, acesso a clientes presos, informações negadas, funcionários que veem o advogado como empecilho, como obstáculo à justiça. Constante falta de estrutura do poder judiciário para dar vazão aos reclamos dos processos que são o sustento de cada advogado, tendo referidas ações caráter alimentar para os colegas.
Realmente não vejo o que comemorar. As bandeiras da verdadeira advocacia foram abandonadas, esquecidas, estão perdendo a cor e vão criar mofo nos recônditos dos gritos surdos dos corredores dos fóruns da vida, pois cada dia está mais difícil empunhar a insígnia da coragem e da altivez na advocacia diante de tantas incongruências.
Infelizmente hoje não estimulo mais meus alunos a seguirem a carreira da advocacia. Em casa fiquei feliz em saber que meu filho mais velho não vai querer seguir a profissão do pai, as outras filhas nem irão pensar nisso porque a continuar assim a advocacia irá ser lembrada como uma profissão que um dia existiu e será encontrada tão somente nos livros de história da civilização.
Pois é... isso tudo acontecendo e a OAB na praça dando milho aos pombos...