A REVOLUÇÃO DA SIMPLICIDADE

 

A vida me fez ateu. E quero desde logo dizer que não é agradável sê-lo. Ter a consciência da finitude e não procurar responsáveis divinos pelos fracassos e pelas conquistas, por vezes é incômodo. Não acreditar na vida eterna, no paraíso ou no inferno, não se apegar com esperança a algo “maior” é também, por vezes, desesperançoso. Não poder compartilhar sofrimentos, derrotas, alegrias, tristezas e conquistas com o além, com o sacro não é algo emocionante. Não falo da minha falta de fé com orgulho ou com honra. Lamento-a, tão só.

Também não ataco ou critico aqueles que são religiosos e que responsabilizam seus “Deus” por tudo, seja pelas desgraças, seja pelas vitórias. Respeito a opção de cada um dentro das escolhas que nos são postas. Até porque fui criado em um ambiente intensamente religioso, de avós maternos que tinham na fé a explicação para tudo e para todas as nossas agruras sofridas. Mas acabei enxergando na religião algo ruim, antilibertário, cruel e desumano. Por vezes, escravocrata, a submissão impiedosa, a exploração dos mais humildes, a pecaminização de tudo, a proibição de tantas coisas sem maiores explicações. Ou a simplista resposta de que foi Deus quem quis assim, não, isso eu nunca aceitei.  

Acompanho com tristeza quando pastores ou quaisquer outros religiosos, à guisa de se locupletarem, utilizando-se desse enigma da fé, extorquem, sem pudor, aqueles que acreditam que doando suas posses irão conquistar graças divinas. Escondem-se referidos estelionatários por trás de uma pseudo laicidade estatal para enriquecerem à custa da crença e de algo que não se explica e em nome de quem, a meu humilde sentir, não existe.

É o famoso lema aqui parafraseado: “pequenas igrejas, grandes negócios”! Isso me aborrece, e como!

Tenho acompanhado, contudo, o novo papa com algum interesse e posso asseverar que tenho me surpreendido positivamente. Sou crítico, porém, desta idolatria que fazem de todos os ocupantes do cargo maior da igreja. Não obstante, o que tem me cativado de verdade no novo sumo pontífice é a sua simplicidade. A sua humanidade e o seu jeito de tratar as coisas de sua professada religião de forma linear, sem messianismos ou divindades, mas com a peculiar serenidade de alguém que acredita no outro, no homem.  

 A simplicidade de seus atos parece que pegou de surpresa a todos. É realmente revolucionário hoje em dia ser simples. A mídia brasileira e também a do exterior têm dado amplo destaque aos gestos nada comuns para quem ascendeu ao posto maior de um estado, que é o Vaticano. Carros simples, vestes simples, moradia simples, o trato humilde com as pessoas, querer estar próximo, humanizando-se no contato, no olhar, no toque, no apertar das mãos; demonstrando que viver é muito menos complexo do que nos fizeram crer.

Que para ser feliz não precisamos de todos esses aparatos e utensílios que foram criados para satisfazer momentaneamente um desejo que nem sabíamos que tínhamos até nos ser incutido de que realmente precisamos de tudo isso.

Não. Nada disso. E ao mesmo tempo, tudo. Um dos leitores deste blogue acabou em um dos nossos posts tecendo seu comentário de que aqui escrevo o óbvio. Não fiquei triste em receber tal “crítica”, ao contrário, fiquei feliz, pois acho que perdemos há muito tempo a capacidade de enxergar no óbvio aquilo que nos torna a nossa essência.

Foi isso que pude compreender da revolução que o novo papa nos trouxe. O óbvio da simplicidade. E que assim seja, sejamos pois óbvios ululantes na simplicidade, pois para mim esta é a nova ordem revolucionária trazida pelo líder da igreja católica e que reacende a esperança de que possamos viver todos, ateus e religiosos, dentro de um ambiente simples, mas confortavelmente revolucionário para a constante ebulição deste ser chamado homem.