Uma estupidez. Assim resumo a morte do triatleta Álvaro Vasconcelos. Falta de gestão e planejamento de uma rodovia construída sem pensar na mobilidade urbana, mas tão somente no trajeto veloz dos carros que por ali transitam. Falta de compromisso governamental com a parte da população que utiliza a bicicleta como meio de transporte para trabalhar. Falta de educação no trânsito dos motoristas que pensam cada vez mais em chegar mais rápido aos seus destinos diante do caos urbano que se instalou com tanta falta de tanta coisa.
Afinal, quem realmente é o dono da rua? Ou da rodovia?
A culpa é de um conjunto de fatores e se compartilha entre a sociedade e os nossos governantes. Só tenho certeza de que o único culpado não foi o Álvaro que estava em um local pensando ser seguro praticar seu esporte. Vinte e nove anos, pai recente, cheio de energia e bons pensamentos para um futuro que acabou em uma curva que não nos deixa boas recordações. Uma morte sem explicações, mas com muita culpa de todos. Uma morte sem lógica, mas com muita falta de logística. Uma morte sem sentido, mas com muito sentimento e pesar.
Outros ciclistas ali já morreram e nada se fez. Muitos ali também já se acidentaram. E, mais uma vez, nada se fez. Outras vidas talvez ainda tombem pelas estradas e rodovias alagoanas porque simplesmente não conseguimos pensar no transporte urbano como um todo.
Bicicletas vistas como presas fáceis do voraz volante turbinado que não compreende o seu papel na cidade. Motoristas negligentes, imprudentes, imperitos a desfilar de maneira irresponsável e a colecionar vítimas para a trágica estatística das mortes no trânsito. Ouso dizer que se mata mais no trânsito do que a violência do tráfico de drogas.
E com a incrível complacência e conivência governamental.
Governo inerte que fez e faz propaganda na TV de uma rodovia que demorou mais do que o tempo necessário para ser entregue, mas não se pensou de forma ampla na mobilidade limpa, no transporte cicloviário como alternativa. Como disse, faltou planejamento, inteligência mesmo, que parece ser uma marca deste “governo do bem” que tem nos deixado cada dia mais azuis de tanta raiva e decepção.
Não falo nem do esporte praticado naquele momento pelo Álvaro, pois este por aqui é negligenciado em todos os sentidos, falo da necessidade de milhares de pessoas que se utilizam de bicicletas para o deslocamento trabalho-casa-escola. Nem uma ciclofaixa, nada, absolutamente nada se pensou em se colocar para também dar vez àqueles que não podem estar em duas ou quatro rodas motorizadas.
Hoje apenas lamentar. Lastimar a perda de um triatleta, de um homem trabalhador, de um pai, de um filho, de um irmão, de um amigo e de alguém que poderia ainda estar entre nós caso o descaso e falta de inteligência não estivessem sobrando nas derrapadas e curvas deste governo que parece durar uma eternidade.
E que todos possamos repensar nossos conceitos no trânsito, na vida e nas urnas para que o verdadeiro governo do bem possa se instalar algum dia por estas paragens.