É difícil ser um liberal no Brasil. A academia é dominada por esquerdistas de todo o tipo e não existem partidos políticos liberais. Todo mundo acha que tem o conhecimento suficiente para tomar conta da vida dos outros. A frase preferida pelos políticos é “cuidar das pessoas”. Para vocês terem uma ideia, bastou FHC promover medidas minimamente necessárias para não quebrar o estado, e já chamam o cara de liberal... Só pode ser piada! Já tem gente dizendo que Dilma é liberal...
Na política e na academia, liberais são uma raridade, e isso é muito ruim em vários aspectos. A defesa do indivíduo, de sua liberdade e propriedade é parte integrante de qualquer democracia bem consolidada. A ausência desse pensamento é politicamente uma tragédia, pois tende a exacerbar o poder do estado. No Brasil, onde todo mundo é de esquerda, o estado é cada vez maior e a liberdade cada vez menor. O poder dos políticos aumenta e o país desvaloriza quem produz, criando uma briga desenfreada por um naco do estado. Ricos ganham empréstimo do BNDES e isenções fiscais. Não há risco para o empreendimento desse tipo de gente. A responsabilidade individual cede lugar ao coitadismo e assim vamos formando uma cultura que desvaloriza o empreendedorismo e o esforço individual e valoriza a proximidade com a política.
Na academia, intelectuais liberais são esquecidos. Falando especificamente do direito, quase todos dão o liberalismo como algo superado. O desconhecimento sobre o assunto é muito grande. Os estudantes conhecem o liberalismo pelos críticos marxistas e são praticamente proibidos de citar Popper, Nozick ou Sowell. Isso sem falar nos economistas defensores da liberdade como Hayek, Friedman ou Schumpeter. O mais próximo dos liberais a que se chega é Bobbio...
O direito é tido como instrumento de regulação heterônoma. O positivismo venceu e o que restou do jusnaturalismo moderno é uma etapa dos direitos fundamentais sempre bastante mitigada pelos chamados “direitos sociais”. Contratos, responsabilidade civil e até o direito comercial. Tudo é comandado pelo estado. Ao indivíduo cabe se conformar com uma democracia com estado gigante, onde quem decide os seus planos de vida não é o próprio indivíduo, mas seres iluminados que conhecem mais que todo mundo e sabem o que é bom para nós. A imagem de um estado provedor e a mítica da solidariedade dá a sensação perfeita a uma elite intelectual que realmente acha que sabe o que é melhor para os outros. O liberalismo incomoda a essa elite, pois retira dela esse caráter de intelectual ungido, como diria Sowell.
Os mais pobres e os tais “hipossuficientes” são todos aqueles que dependem dessa elite, pois não sabem escolher por si. São seres imaturos que precisam do estado para sobreviver. E como o estado é o provedor, o grupo que o controla é que faz as escolhas, cobrando tributos desses mesmos pobres e hipossuficientes e devolvendo ineficiência por meio de escolhas arbitrárias. Basta alguém abrir uma bodega na esquina ou montar um carrinho de pipoca que o estado estará lá cobrando taxas, licenças e impostos sobre a renda... Desestimulamos o trabalho e o esforço.
É muito fácil ser um antiliberal. Basta ter a crença de que sabe mais que os outros e que os outros são imaturos demais para tomar decisões sozinhos. Junte isso à crença de que a liberdade gera insegurança e acrescente o preconceito contra a riqueza e o esforço individual. Temos o cenário perfeito para a proliferação do antiliberalismo em todas as suas vertentes.
Mas isso está mudando lentamente. Muitos, tendo contato com o pensamento liberal, estão deixando os preconceitos de lado e estão lendo diretamente na fonte. Estão tomando contato com a história e com as tentativas fracassadas de planejamento central. Estão aprendendo que as soluções do estado para as crises são, quase sempre, causadoras de mais crise. E, mais que tudo, estão aprendendo que a liberdade não é só um meio, é um fim em si mesmo.
Recentemente tive a honra de ser convidado a palestrar na Conferência Nordeste dos Estudantes pela Liberdade. Trata-se de um evento importantíssimo, pois realizado por estudantes e com o objetivo de discutir temas relacionados à liberdade e à defesa da propriedade. Falei sobre a influência do comunitarismo nas leis e de como isso afeta a liberdade e a igualdade.
Já participei de outros eventos do grupo e, lhes digo, fiquei impressionado com o que vi. Na nossa academia, dominada pelo pensamento de esquerda, também há espaço para a divergência, e ela vem comandada pelos estudantes! Temas os mais variados e palestrantes de diferentes pontos de vista, uns mais outros menos liberais, debateram e apresentaram suas palestras no Recife.
Isso, obviamente, está longe de colocar o pensamento liberal no lugar que ele merece no Brasil, mas é um grande passo! Parabenizo aqui a iniciativa dessa turma, que a cada evento que faz, acende mais uma vela no escuro.