Paulo César Siqueira Cavalcante Farias, conhecido como PC Farias, nasceu no dia 20 de setembro de 1945, no município de Passo de Camaragibe e morreu em 1996, após ter sido assassinado dentro de sua residência, na praia de Guaxuma, ao lado da sua namorada Suzana Marcolino. No próximo dia 06, 17 anos após o crime, o caso, ainda repleto de dúvidas e perguntas não respondidas pela investigação, vai a júri popular. Em busca de relembrar o episódio, que marcou a sociedade alagoana e voltou os olhos da mídia nacional e internacional para o estado, o CadaMinuto publica nesta semana reportagens da série: “Quem matou PC Farias?”.  

PC Farias era um empresário alagoano e ganhou fama pelo país durante as eleições para a presidência do Brasil de 1989, quando foi tesoureiro da campanha de Fernando Collor de Melo, que deixou o Governo do Estado de Alagoas para assumir o cargo de presidente em 1990. Antes de completar dois anos de mandato, as denúncias contra Collor começavam a estampar as manchetes dos principais veículos de comunicação do país e tinham como ator principal da trama o ex-tesoureiro.

As denúncias de corrupção sustentaram a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), instalada pelo Congresso Nacional. Na época, Pedro Collor de Melo, irmão do presidente da república, acusou PC Farias de ser o “testa de ferro” em diversos esquemas fraudulentos, que começaram a ser descobertos. Diante dos fatos, em 1992, Collor renunciou Presidência da República para não ter seus direito políticos cassados.

Mesmo afastado oficialmente do Governo Collor, PC Farias desenvolveu um esquema de corrupção que movimentou mais de US$ 1 bilhão dos cofres públicos em menos de dois anos. Documentos da época apontam que o ex-tesoureiro mantinha bastante influência em todos os ministérios do governo e, principalmente, no setor da economia do país. PC Farias foi acusado de manipular contratos através da corrupção de funcionários do governo para fazer modificações nos documentos, desviar verbas e outros serviços sem deixar nenhuma pista.

Durante as investigações, a Polícia Federal descobriu que PC mantinha contas na Europa, de onde fazia transferências bancárias para cidades nos Estados Unidos.  Em 1993, com a prisão preventiva decretada pelo crime de sonegação fiscal, PC Farias fugiu do país utilizando um bimotor até a Argentina. Em outubro do mesmo ano ele foi localizado na Inglaterra e teve sua prisão decretada pelo governo britânico. Um mês depois ele foi preso na Tailândia e transferido para o Brasil.

 Após ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a sete anos de prisão, em 1994, PC foi transferido novamente para Alagoas, onde ficou preso Quartel do Comando do Corpo de Bombeiros, em Maceió. Sua morte aconteceu seis meses após ganhar ele a liberdade condicional.

Os corpos de PC Farias e da sua namorada Suzana Marcolino foram encontrados por volta das 11 horas do dia 23 de junho de 1996 por funcionários da casa. Na noite do crime, o empresário havia jantando com seu irmão, o deputado federal Augusto Farias à época, na casa de praia em Guaxuma. PC se preparava para prestar um depoimento na CPI das Empreiteiras, mas morreu quatro dias antes.

 O início das investigações apontou para um homicídio, seguido de suicídio cometido por Suzana. Mas, diante da repercussão do caso, outros laudos periciais foram solicitados pela Justiça e veio a reviravolta no crime após dois anos. Mesmo com o grande volume de investigação, o processo chegou à Justiça sem apontar a peça fundamento do caso: quem assassinou o empresário e a namorada.   

O laudo pericial do médico legista Badan Palhares confirmou a tese da Polícia Civil alagoana de crime passional.  Em 1996, o delegado Cícero Torres entregou o primeiro inquérito para o Ministério Público Estadual (MPEAL), mas foi descartado após solicitação de novas diligências da promotora Failde Mendonça.

 A análise do médico legista George Sanguinetti, solicitada pelo juiz Alberto Jorge de Barros, desmontou a tese feita pela perícia alagoana e de Palhares. Sanguinetti concluiu que PC e Suzana foram assassinados. Á época, o laudo de Sanguenetti não foi considerado e uma nova equipe de médicos legistas veio a Alagoas para elaborar um novo documento.

Os legistas Daniel Romero Muñoz e Genival Veloso de França, e o criminalista Domingos Tochetto concluíram por duplo homicídio e um novo inquérito foi reaberto pelos delegados Antônio Carlos Lessa e Alcides Andrade. Os delegados concluíram a peça policial com o indiciamento do irmão de PC, Augusto Farias, e de mais oito funcionários da vítima.  

Na época, os delegados afirmaram não ter dúvidas sobre a participação do irmão de PC na trama. O inquérito foi entregue à Justiça e repassado para o Ministério Público, sob a avaliação do promotor Luiz Vasconcelos, que decidiu pela denúncia de oito dos nove indiciados pela Polícia Civil. Augusto Farias ficou de fora, por ter foro privilegiado, e pouco tempo depois a Procuradoria Geral da República não aceitou a pronúncia.   

Com o andamento do processo, a Justiça decidiu que dos nove indiciados apenas os quatros seguranças Adeildo Costa dos Santos, Reinaldo Correia de Lima Filho, Josemar Faustino dos Santos e José Geraldo da Silva sentariam no banco dos réus.