Quando cheguei ao Jornal do Brasil, em 1977, me deslumbrei. Primeiro por estar no Rio de Janeiro, segundo por estar no JB e terceiro pelo que vi num jornal de verdade.

Tinha lá no JB o Departamento de Pesquisa, que você poderia consultar sobre qualquer assunto em qualquer época. O JB já era quase centenário, de modo que muito da história do país foi escrita pelo próprio jornal.

E isto numa época em que não havia computador nem o Google; a Internet ainda era para uso exclusivo militar nos Estados Unidos.

Pois bem; na noite desta segunda-feira, 4, a televisão alardeou a descoberta da polícia europeia sobre a máfia da loteria e nenhuma – eu disse nenhuma televisão, nem mesmo a Globo – informou corretamente o telespectador sobre a repetição do fato.

Ou seja: não há nenhuma novidade no que a mídia agora quer transformar em escândalo; trata-se da repetição da história – que se repete em forma de tragédia.

Triste da imprensa que só noticia, pois o papel da imprensa é informar. Talvez seja por isso que a audiência do jornalismo televisivo esteja caindo pelas tabelas.

Para os jovens é como se fosse novidade e cabe aos mais velhos informá-los de que esse filme já passou antes na Europa e no Brasil. Máfia da loteria só não é mais antiga do que o futebol, porque só na década de 1960 é que começou a cobiça pelo lucro que o futebol pode proporcionar – seja com a negociação de jogadores, seja com a lavagem de dinheiro, seja com a manipulação de resultados.

Mas, apesar da facilidade com a Internet e o Google, o noticiário da televisão não fez nenhuma alusão à história – quem sabe porque é mal-editado; quem sabe é porque não existe mais Departamento de Pesquisa auxiliando a redação ou, então, porque não se faz mais jornalista do quilate de Alberto Dines, Cláudio Abramo, entre outros.

Engraçado é que o Cláudio Abramo dava curso de pós-graduação em Jornalismo na USP e falava cinco idiomas, mas só tinha cursado até o que hoje chamamos 1º grau. Nunca frequentou faculdade, muito menos de Jornalismo. Na verdade, o Cláudio Abramo era marceneiro.

Imaginem e fiquem pasmados, com esse homem que é um dos 10 maiores jornalistas da história moderna do jornalismo brasileiro.

E assim, sem mais um Cláudio Abramo ou Alberto Dines comandando redações, o noticiário pífio sobre a máfia da loteria ficou incompleto.

Até em Alagoas tem um personagem envolvido. Fomos colegas de pelada no Mutange e no Campo do Aterro em Bom Parto, e ele sempre gostou de jogar de goleiro. Refiro-me ao César, que foi goleiro do CRB e depois foi vendido para o Corinthians de verdade, ou seja, o paulista.

O César fechava o gol e agitava a Fiel com as suas atuações no Pacaembu ou Morumbi. Apesar da estatura mediana – tem pouco mais de 1 metro e 70 de altura – o César se transformava em gigante numa partida, em outra levava cada frango que deixava todo mundo sem entender.

A carreira do César foi encerrada traumaticamente, depois de seu nome ter sido relacionado entre os jogadores que participavam da “Máfia da Loteca”.

Outro amigo de bairro e ex-jogador do CSA, do São Paulo e do Santa Cruz de Recife, o Paranhos, me contou certa vez que quase saiu na mão com o zagueiro chamado Sapatão – que era reserva no Flamengo, foi emprestado ao Bahia e depois ao Santa Cruz.

Num jogo contra o Ibis, o Sapatão fazia a dupla de zaga com o Paranhos e disse que o Santa Cruz tinha que perder o jogo. Disse mais que todos iam sair ganhando uma boa grana, porque seria uma zebra e derrubaria muitos apostadores.

O Paranhos não aceitou a proposta, mas o Sapatão não imaginava que ele fosse capaz de melar tudo. Foi num lance assim, conforme o Paranhos me contou:

O Sapatão estava combinado com o goleiro e num lance para atrasar a bola o goleiro fingiu ter escorregado. A bola ia se dirigindo para o gol quando o Paranhos deu um pique e tirou-a para a linha de fundo num carrinho providencial.

Os dois quase saíram no tapa.

E por falar nisso: está aí uma pauta para os colegas que ainda privilegiam a informação, no lugar da notícia: entrevistar o Paranhos para ele contar essa e outras boas histórias. Não é uma boa?