A diferença fundamental entre jornalista e repórter é que o jornalista pode escrever sobre o que não viu; o repórter só pode escrever sobre o que vê.

Daí chegava a ser hilário alguns comentários à distância sobre o desenrolar do processo para eleição do novo presidente do Senado.

Como alguém, a 3 mil quilômetros de distância, pode estar escrevendo sobre o que não está vendo? Só poderia mesmo sair coisas estapafúrdias.

Ah, mas o jornalista tem fontes. 

É verdade, mas também é verdade que toda fonte tem o seu próprio interesse; ninguém dá informação de graça a ninguém. Logo, é melhor e mais legítimo escrever sobre o que vê e não sobre o que lhe contaram.

Na década de 1990 eu morava em Brasília e era assessor do então deputado federal José Thomaz Nonô, que presidiu a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara no processo de cassação dos “anões do Orçamento”.

Na época, a indignação maior ficou por conta da declaração do deputado federal João Alves – que alegou em sua defesa ter acertado mais de 200 vezes da Loteria.

E foi verdade; não era mentira não. Escrevendo à distância, sem ver os fatos, alguns jornalistas transformaram a verdade em chacota.

Exemplo: quem precisa lavar R$ 8 milhões aplica o dinheiro num jogo da loteria de R$ 7 milhões e acerta; não existe a mínima possibilidade de errar. É Análise Combinatória e Probabilidade.

Claro, o apostador não ganhou; apenas acertou. Não ganhou porque investiu uma quantia maior que o prêmio, mas, em compensação lavou o dinheiro. Foi isto o que aconteceu.

Na disputa pela presidência do Senado, o senador Pedro Taques admitia que iria perder a disputa para o senador Renan Calheiros, mas alardeava que teria mais de 20 votos.

Escrevendo à distância, alguns jornalistas acreditaram na aritmética do senador Taques; mas, o repórter viu que não seria bem assim. Pelo menos quatro senadores que Taques colocou na conta não iriam votar nele.

Talvez não o traísse, mas com certeza não lhe dariam o voto. De fato, houve dois votos em branco e dois votos nulos e Taques obteve só 18 votos.

A eleição de Renan era liquida e certa porque é necessário entender o Senado com as suas peculiaridades. Uma dessas peculiaridades é o conservadorismo, e tem que ser assim, porque o Senado representa os estados e não me consta que haja algum estado brasileiro em processo revolucionário.

A sociedade brasileira é conservadora.

E quando um dia alguém contar a história do Senado brasileiro, o senador Renan estará nas páginas principais não só como aquele que foi e voltou, mas também como um dos mais hábeis articuladores que o Parlamento brasileiro já produziu.