Amigos, em tempos de Carnaval, sempre retomo a discussão sobre os custos de eventos patrocinados com dinheiro público. Aqui em Alagoas, vemos numa reportagem do Cada Minuto o choro dos organizadores do já tradicional bloco Pinto da Madrugada por dinheiro público.

“A possibilidade de cancelamento da festa é iminente, como admitem os organizadores do bloco. Isto porque, segundo informações apuradas pelo CadaMinuto, os recursos que normalmente são oriundos do Governo do Estado e da prefeitura de Maceió teriam sido suspensos ou ainda não confirmados oficialmente pelos Poderes Executivos Estadual e Municipal”.

Não estou aqui para criticar os organizadores do bloco. Estou criticando o governo, que não tem a coragem de deixar de lado o populismo barato e parar com essa história de dar dinheiro dos impostos para organização de festas. Se o “Pinto” fosse mesmo querido pelos alagoanos, haveria patrocínio e mobilização privada suficiente para sua organização.

O problema é que os organizadores do “Pinto” são contra o “lucro”. Não querem entrar no mercado! Dia desses eu vi um dos organizadores reclamando da montagem de um “camarote” na orla da Pajuçara. O tal “camarote” fez um anúncio, vendendo uma festa paralela para aqueles que querem brincar o carnaval num estrutura com mais conforto. A montagem do evento seria benéfica ao próprio “Pinto”, pois atrairia um público específico, dando visibilidade. Se o “Pinto” fosse esperto, faria até um acordo pelo uso do nome e levaria algum dinheiro.

Mas isso “contraria a proposta do bloco”... Numa atitude infantil, os organizadores do “Pinto” ameaçaram tirar o bloco da orla da Pajuçara, como vimos em reportagem aqui no Cada Minuto:

“A 14ª edição do desfile do Bloco Pinto da Madrugada promete trazer novidades para o Carnaval 2013. É que os dirigentes da agremiação estão estudando a possibilidade de levar o evento para outro trecho da orla litorânea de Maceió; excluindo por sua vez, o tradicional local (Praia de Pajuçara). Essa questão vem sendo discutida amplamente pela direção do Bloco, sobretudo motivada por um anúncio comercial que vem sendo feito por uma empresa alheia, dando conta da venda de camarotes (inclusive usando indevidamente a marca do Pinto) o que contraria totalmente a proposta dos que fazem o maior bloco de Carnaval de Alagoas”.

Segundo um dos organizadores, o bloco não tem fins lucrativos e a montagem de camarotes seria contrária ao objetivo do “Pinto”. Tudo bem. Mas o empresário que teve a brilhante ideia de montar o camarote e seus clientes não têm nada com isso. Eles não estão obrigado ninguém a brincar no ar-condicionado...

Qual a lição que fica de tudo isso? Não existe almoço grátis. Se o Pinto não tem objetivo de lucro, parece que os fornecedores do material necessário para o “Pinto” sair têm. Músicos, seguranças e demais fornecedores de serviços cobram para trabalhar. Sendo assim, não há saída. Ou os organizadores buscam dinheiro entre aqueles que querem brincar no “Pinto” (venda de camisas e patrocínios) ou vão ter que recorrer àqueles que não querem brincar no “Pinto”: os contribuintes de impostos!

Vejam então a imagem torta que temos do carnaval popular. Quando ele é “de graça”, na verdade é pago com impostos daqueles que não foram brincar. Quando ele é “pago”, com o objetivo nefasto de “lucro”, ele, na verdade está sendo pago por aqueles que querem brincar, deixando de onerar terceiros que não gostam da festa. Qual o carnaval mais “democrático”?

Leiam um texto que escrevi no ano passado e tirem suas próprias conclusões.


Carnaval popular? É você quem paga!
Amigos, não quero dar uma de chato (coisa que faço sempre), mas é necessário dizer algumas verdades.

Esse país não tem prioridades. Volta e meia eu retomo esse assunto. O Carnaval é uma ótima oportunidade de lembrar como gastamos mal nosso dinheiro. Gastamos milhões em festas enquanto nossas escolas caem aos pedaços e nossa polícia ganha mal. No Carnaval, essa promiscuidade com o dinheiro público se exacerba.

Você sabe quanto vai custar o Carnaval dito “popular” de Recife? Fala-se em 35 milhões de reais em gastos com o Carnaval. Só pela prefeitura da cidade! Dá para acreditar? É... Enquanto você vai de carro para Recife, aprecie nossas estradas cheias de buracos, pois quando você chegar, terá uma festa de primeira, paga com dinheiro público.

Eu adoro Carnaval, festas de rua e similares. Não estou criticando a festa. O que não entendo é como se pode conviver com uma escola fuleira e um posto de saúde sem médicos, mas não se pode viver sem gastar dinheiro público com festa. E quanto dinheiro!

A verdade, meus amigos, é que, hoje, o Carnaval não é uma festa que surge da participação autônoma de indivíduos que gostam de alegria... Hoje, o Carnaval é uma industria de entretenimento. Em Salvador, empresários profissionalizaram o evento e movimentam milhões de reais com blocos e camarotes. Mesmo assim, o dinheiro público ainda é determinante.

Se há formas de patrocínio privado para a festa, por que o Estado ainda gasta tanto dinheiro? É que a rede movimentada pela festa é muito grande. Empresários, artistas e políticos se juntam numa associação promíscua e você paga a conta. Quando não há corrupção, há, no mínimo, favorecimento aos artistas amigos do poder. (Certos cantores em Recife só tocam em eventos públicos...)

A justificativa para tantos gastos é sempre a mesma: atrai turismo, gera renda, etc... Não sei. Acho que nessa conta não entram alguns custos óbvios da festa como o aumento da violência, os gastos com saúde provocados por acidentes de trânsito e a perturbação do sossego daqueles que não gostam de festa (provavelmente, a maioria da população). Isso não deve ser levado em consideração?

Não, amigos, não sou contra a festa. Sou contra o Estado patrocinando a festa. Ela seria possível sem isso? Não sei. Só sei que me incomoda muito ver o meu dinheiro patrocinando shows enquanto as nossas delegacias não têm a menor estrutura e nossos professores recebem salário de fome.