Os mais velhos se lembram da “carrocinha”, que circulava recolhendo à força os cachorros vadios. Virou até cantiga de roda:

A carrocinha pegou
3 cachorros de uma vez...

A “carrocinha” não existe mais; cachorro agora “é gente” e não leva mais uma vida de cão. Tem lei rigorosa para punir os que não respeitam o direito do cachorro.

Mas, em São Paulo e no Rio de Janeiro, a “carrocinha” está de volta e desta vez não é para recolher à força os cães vadios e sim os rebotalhos humanos conhecidos como “noiados”.

E aí vamos mudar a letra da cantiga de roda para:

A carrocinha pegou
3 noiados de uma vez...

O internamento forçado dos dependentes de drogas que estão nas ruas iguais a cães vadios é uma medida extrema e desesperada. É também arriscada.

O tratamento de choque a que serão submetidos, se for usada drogas químicas legais, terá dois resultados: o rebotalho humano sucumbe e torna-se “morto-vivo”.

Ou o rebotalho humano, sob o efeito da droga química legal, perderá de vez o que ainda lhe restava de lucidez e vira bicho sem noção – que será capaz de tudo, inclusive matar.

Alguma coisa deve ser feita para conter essa verdadeira avalanche de drogados, que surgem por todo o país nacionalizando a “cracolândia”.

Mas, com certeza, não vão resolver o problema com a “carrocinha”. Até porque, essa medida extrema e desesperada tem por único objetivo limpar a área para a Copa do Mundo em 2014.

Lembra-me, na década de 1960, a ação realizada no Rio de Janeiro para se afastar os mendigos do trajeto por onde a rainha Elizabeth iria passar em visita à Cidade Maravilhosa.

Em nome da Copa do Mundo vale tudo, até porque a seleção brasileira será campeã. Mas eu quero saber é depois, quando o juiz encerrar o jogo.

Depois que passar a ressaca da comemoração pela seleção brasileira ter sido campeã do mundo em 2014 é que eu quero ver como vai ficar a sujeira jogada embaixo do tapete.