Na década de 1980, no rastro do sucesso da novela “O Bem Amado”, a Rede Globo realizou um Globo Repórter Especial com o Paulo Gracindo, filmado em Maceió.

Eu era repórter da Gazeta e o Márcio Canuto era o editor-geral. O Márcio me escalou para cobrir a reportagem, para fazer uma reportagem da reportagem, que seria – e foi – publicada na Gazeta no dia em que o Globo Repórter fosse ao ar.

Fui eu e o fotógrafo Gilberto Farias.

No primeiro momento pensei: gente de televisão xexelenta é metida a besta, imagine se for da Globo!...

Mas, pauta é pauta e lá fomos nós.

O Márcio Canuto mandou que me apresentasse ao jornalista Jotahy Assad, que era o produtor do Globo Repórter.

Chegamos pela manhã cedo no hotel, eu e o Gilberto Farias, e aquela impressão ruim se desfez; o Jotahy Assad nos recebeu muito bem. Todos nos receberam muito bem e foram quatro dias de “aula prática” que escola nenhuma de Comunicação poderia nos proporcionar.

Nós entramos nos bastidores, ouvíamos as orientações do Jotahy e a preparação da repórter Ilze Scamparine. Víamos como o cinegrafista se posicionava, enfim, os bastidores de uma reportagem televisiva.

E por falar na Ilze Scamparine, até hoje eu não sei se ela é mais bonita por dentro ou por fora. Fizemos amizade como se fossemos velhos conhecidos.

No terceiro dia, quando retornamos da filmagem na Barra de São Miguel, onde o Paulo Gracindo recordou os piqueniques que a família realizava na sua infância, o Jotahy Assad anunciou que a filmagem no dia seguinte começaria às 5 da manhã.

Lembro-me que até brinquei perguntando a Ilze Scamparine se o Paulo Gracindo iria tirar leite. Filmagem às 5 da manhã, só poderia ser num curral.

A Ilze riu e explicou que o Paulo Gracindo havia dito a ela que, quando era criança na Pajuçara, ele costumava ir às 5 horas da manhã escovar os dentes com água do mar.

Aí a Ilze aproveitou para perguntar se não havia nenhuma praça, nenhuma homenagem ao ator Paulo Gracindo em Maceió.

- “Uma praça, um busto, uma rua com o nome dele. Não tem?”

- Não, não tem Ilze. Só tem uma rua com o nome do pai dele, Demócrito Gracindo. Mas homenagem ao Paulo Gracindo, não tem.

Na época eu respondi assim à pergunta da Ilze Scamparine. Se fosse hoje, eu diria:

- Ilze, não tem homenagem alguma ao Paulo Gracindo porque o alagoano tem uma inveja mórbida do alagoano que faz sucesso. É uma raça desgraçada mesmo.

É ou não é?

Isso deve explicar o fato de nenhum dos nossos heróis estarem sepultados na terra natal. O último dele, o escritor Ledo Ivo, a família optou por deixá-lo lá mesmo no Rio de Janeiro.

Tivemos também o exemplo recente do presidente Collor. O impeachment do Collor foi a maior sacanagem jurídica-política da história da República.

E, para não fugir a regra da tradição de inveja e traição, quem denunciou o Collor foi um alagoano.

Sabe o que eu acho? Eu acho que Judas Iscariotes era alagoano....