Embasbaquei-me diante da pergunta, que é o título desta postagem.

Aconteceu à noite, eu estava com uns amigos num bar e um deles fez a pergunta depois de ouvirmos no Jornal Nacional a notícia sobre a morte do escritor Ledo Ivo.

Era. Limitei-me a confirmar, mas cá por dentro me roendo. Gostaria de acrescentar mais coisas, mas isso seria destratar meu estado – que não merece.

Era alagoano, o Ledo Ivo, e eu imagino se fosse baiano ou pernambucano. Já imaginou alguém não saber que Jorge Amado era baiano e que Gilberto Freire era pernambucano?

Não tem cabimento.

Mas, com Alagoas é assim; há essa idiossincrasia que faz o alagoano odiar o alagoano que faz sucesso, que se destaca, que não é medíocre.

E isto não é de agora.

Basta lembrar o Graciliano Ramos, o quanto sofreu por ser gênio numa terra que não gosta dos próprios gênios.

Revoltado, Graciliano Ramos chegou a aconselhar a destruição de Alagoas através da foz do rio São Francisco – que ele propôs ser bombardeada para se criar um golfo no Brasil.

Nas bibliotecas de Paris pode-se encontrar exemplares do trabalho do médico e antropólogo Arthur Ramos – que não é parente do Graciliano, mas, igualmente alagoano, o que se sabe dele aí na terra? O que há para reverenciá-lo.

E Nise da Silveira, que revolucionou a psiquiatria, o que se sabe dela aí na terrinha?

E o Ledo Ivo era alagoano?

A pergunta soou nos ouvidos como agressão. Mas, pensando bem, não dá para se irritar quando a gente sabe que o alagoano não trata bem os que se destacam.

Até parece que o alagoano sofre complexo de inferioridade. Ou então é safadeza mesmo e nessa dúvida atroz fico de cá também a perguntar:

- O Ledo Ivo era alagoano?

- E o Graciliano Ramos também era?

- E a Nise da Silveira, o Arthur Ramos, também eram?