Por dever de ofício eu confesso que leio alguns jornais, e que se não fosse por dever jamais os leria quanto mais desembolsar algum para comprar o exemplar.
É triste o espetáculo que estamos assistindo com a manipulação de escândalos e a conivência da mídia impressa e eletrônica, numa descarada e velada opção eleitoral com vistas a 2014.
Querem porque querem “murchar” o Lula, achando eles que assim ficará mais fácil o Aécio Neves derrotar a presidente Dilma, no caso de ela ser candidata à reeleição.
Pelo sim, pelo não, a mídia fofoqueira mira o Lula porque sabe ser ele a “carne de pescoço”. E caçam o Lula como quem caça um inimigo em potencial, que preocupa mais quando está sem mandato.
E na pressa da caça ao Lula alguns jornalistas tem produzido matérias que custa acreditar tenham sido eles formados, ou seja, “jornalistas por formação”, e que hoje se prestam ao papel reles de fofoqueiros.
Os verdadeiros “troca-letras” que não se sabe ainda se agem assim para garantir o emprego, ou se em troca de vantagens. Será que a sociedade está diante da constatação da assertiva, que recomenda nunca dar dinheiro a jornalista que gosta de notícia e nunca dar notícia a jornalista que gosta de dinheiro?
Mas, diante de tantas porcarias que me levaram a não mais assistir ao Jornal Nacional, por exemplo, deparei-me com um texto que me chegou pelo e-mail no “jornalistas alagoanos”. O texto é da jornalista Débora Pinheiro, que reproduzo na íntegra com a sensação de quem descobriu que nem tudo está perdido.
Ainda há esperança; ainda há jornalistas. Segue o texto da Débora Pinheiro:
Explico por meio de comentário do jornalista Leandro Fortes: Jornalismo da Candinha
A Folha de S.Paulo tascou essa manchete dando conta de que Rosemary Noronha comprou um imóvel de 250 mil reais com 211 mil reais em espécie. Bom, para quem já foi acusada de levar 25 milhões de dólares numa mala para fora do país, esse carregamento em reais deve ter sido mesmo uma moleza.
Aí, nos avisa a Folha, como foi feita a rigorosa apuração para se chegar a essa informação:
"Rose carregou o dinheiro para quitar o negócio em sacos de supermercado, de acordo com o relato de uma pessoa que participou da transação e que fez o relato à Folha sob a condição de que seu nome não fosse revelado."
Vou repetir o essencial: "de acordo com o relato de uma pessoa que fez o relato à Folha".
(Aliás, que texto maravilhoso)
Aí, os repórteres foram ouvir, claro, o dono do imóvel, o sujeito que vendeu o apartamento para Rose (adoro essa intimidade na reportagem):
"O pecuarista Amilcar Rodrigues Gameiro, que vendeu o apartamento a Rose em 2010, disse à Folha não se lembrar se o imóvel foi pago em espécie porque a negociação foi feita por um procurador. 'Não sei se foi em cheque ou dinheiro. O certo é que não levei esse dinheiro em espécie para o Mato Grosso. Seria muito perigoso'", disse.
Ou seja, jornalismo feito na base da fofoca e do vale tudo.
Quer dizer, não bastou enterrar o diploma do jornalista.
É preciso enterrar o jornalismo.