Apaixonado por Cleópatra, o imperador romano Júlio César devolveu a Ilha de Chipre ao Egito. Com isso, ele fortaleceu a amante – que ainda ficou com três legiões do exército romano para protegê-la; mas, ele desagradou os romanos que há muito cobiçavam a ilha.
Desde os primórdios a história é assim, porque o homem é um animal político e o homem é um animal político porque uma cidade (polis) se faz com política. Pode-se estender o entendimento à nação, que nada mais é que o conjunto das cidades, que formam o estado e são formadas pelos municípios.
Tudo na vida é política, absolutamente tudo.
Certo ou errado; legal ou ilegal, imoral ou não a verdade é que o sistema funciona à base desses acordos que ora descambam para o “mensalão”, ora para os favores na periferia do poder ou mesmo no seu cerne.
Quem leu o livro “Os negócios do senhor Júlio César”, de Bertold Brecht , não fica assim tão bestificado com os acontecimentos que parecem marcar a política pelo que ela tem de pior – que são essas concessões e esses favores.
A política é igual à burocracia. Muitos se queixam delas, mas ninguém pode viver sem elas. Quando alguém precisa garantir a posse de um bem ou abrir uma conta bancária recorre à burocracia para se certificar de que está amparada.
É assim que funciona.
Evidentemente que compete à sociedade apurá-la ou deixá-la menos complicada. Mas, sem a ilusão de que poderá santificá-la, até porque isto passaria antes pela purificação de cada um. Não podemos exigir dos outros, aquilo que não somos.
A sociedade está diante de um impasse, com a possibilidade de um choque entre o Poder Legislativo e o Poder Judiciário, no caso do julgamento do “mensalão”.
Não é lícito que um condenado permaneça com o mandato, mas também não é justo que a Justiça tenha permitido que se candidatasse se havia contra ele um processo tão grave.
A frase “a Justiça tarda, mas não falha”, é absurda porque – já se disse com propriedade – a Justiça que tarda não faz Justiça.
O debate sobre a cassação dos condenados no “mensalão” que estejam exercendo mandatos eletivos deve ir além da paixão, ou dessa expectativa em torno do “holocausto” que se deseja fazer contra os implicados.
Se eles estão exercendo o mandato é porque a Justiça demorou. O impasse deve servir de ilustração para o exemplo cristalino de que Justiça tardia não é Justiça.
O presidente da Câmara já avisou que não vai acatar a decisão do Supremo Tribunal Federal, caso decida cassar os mandatos dos envolvidos. E agora, no rastro do “mensalão”, a sociedade se vê diante do impasse: cassa ou não cassa?
No passado recente, alguém colocou os tanques na Esplanada dos Ministérios e cercou o Congresso Nacional. E ainda bem que o Supremo Tribunal Federal não tem tanques.