Amigos, compartilho com vocês um texto que mostra a manipulação ideológica por trás das provas de vestibular. A velha e encardida crítica vazia ao “capitalismo” faz da hipocrisia e da ignorância os elementos necessários para entrar numa universidade pública. Eu não me surpreendo com isso. Quem se lembra de ter tido, no ensino médio, algum professor não marxista?

Procura-se médico engajado!

Por André de Holanda

No último domingo (dia 9/12), mais de três mil pessoas fizeram a primeira prova do vestibular da Universidade de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal). Deveriam responder questões de Língua Portuguesa, Literatura Brasileira, Língua Estrangeira e escrever a Redação (disponível em: http://www.copeve.ufal.br/sistema/anexos/Vestibular%20UNCISAL%20-%202013/Prova%20-%20Primeiro%20dia%20-%20tipo%201.pdf).

No ano passado, o vestibular da Uncisal pediu aos candidatos que tomassem como argumento principal da Redação a frase: “Com efeito, a lógica consumista faz da disposição de consumir coisas uma necessidade vital”. Fiquei ressabiado: será que, neste ano, a universidade incorreu em nova tentativa mal disfarçada de avaliar conhecimento segundo critérios político-ideológicos?

O modelo da prova de redação foi divulgado nesta segunda-feira (10/12). Minha suspeita se confirmou. O tema deste ano foi: "O grande desafio do século XXI é a mudança do sistema de valores que está por trás da economia global de modo a torná-lo compatível com as exigências da dignidade humana e da sustentabilidade ecológica". A frase é do profeta ecologista (e físico!) Fritjof Capra, que a escreveu em “As Conexões Ocultas – Ciência para uma vida sustentável”.

Eis que, entre os “elementos expressivos” destinados a subsidiar a elaboração do texto pelo candidato do vestibular, surge um trecho do mesmo livro (que, curiosamente, não é citado dessa vez), em que Capra iguala capitalismo a ganhar dinheiro e a consumo material. Descobri que, na mesma obra, o ecologista-físico convoca a humanidade a realizar as “grandes revoluções” para superar o “capitalismo global”, que, entre outras coisas, nos teria legado o abominável “livre fluxo de bens e de capital”.

A prova de Redação trazia mais dois “elementos expressivos”: 1) a frase “olham para o lixo como fonte de renda e, ao mesmo tempo, como o local de onde vem seu alimento diário” (em tom denunciador, de revolta, agradável à militância); e o poema O Bicho, de Manuel Bandeira (idem). A prova sugeria ao candidato, então, que, em uma “análise crítica” (como convém!), atacasse a desumana sociedade capitalista contemporânea e, num assomo de engajamento militante, defende ações de superação e de transformação do sistema de valores em que aquela se assenta. A conclusão inevitável: apenas o ecologismo sustentável é compatível com a dignidade humana.

Será simples assim (muitas vezes o é!): se concordar com os autores da prova e com Fritjof Capra, o candidato receberá uma boa nota. Caso contrário, aprenderá que não basta dominar a escrita em língua portuguesa para entrar na Uncisal. A militância anticapitalista é requisito obrigatório para a instituição que apareceu nas últimas posições em rankings oficiais e não oficiais recentes (link para: . http://gazetaweb.globo.com/noticia.php?c=159851 e http://tnh1.ne10.uol.com.br/noticia/maceio/2012/09/03/204943/uneal-e-uncisal-entre-as-piores-universidades-do-pais-ufal-ficou-em-36).

Agora, comprovado o viés político-ideológico do tema da redação do vestibular da Uncisal, quem se habilita a pedir a anulação da prova?
 

André de Holanda é sociólogo pela UnB