O jornalista Alexandre Garcia contou alguns “casos” que se passaram com o arquiteto Oscar Niemayer. São “casos” de onde se pode retirar lições do caráter desse comunista e ateu que se deu bem na vida e passou dos 100 anos de idade.
Quem sabe, Deus deixou que durasse tanto para poder produzir as obras que o imortalizou no mundo. Afinal, Graciliano Ramos também era ateu e dizia que “graças a Deus era ateu”.
Vamos, pois, aos “casos” de Niemayer contados pelo jornalista Alexandre Garcia.
1) Na construção de Brasília, enquanto Niemayer projetava a Universidade de Brasília, a UnB, ao seu lado o inquieto Darcy Ribeiro dava os seus “pitacos”. Niemayer ouvia calado, mas, a certa altura não suportou os “pitacos” de Darcy e reagiu:
-“Darcy, você vai ser o reitor da UnB. Mas o arquiteto sou eu”.
Pronto. O primeiro reitor da UnB se calou.
2) Niemayer fez um contrato no valor de 40 mil cruzeiros para construir Brasília. Seria algo hoje em torno de 20 mil reais, o que, convenhamos, não era muito para o trabalho que teve no meio do cerrado onde só exista onça e lobo Guará.
Sem muito dinheiro, Niemayer teve de assinar uma promissória para pegar dinheiro emprestado no banco e construir o “Catetinho”, onde o presidente Juscelino Kubistchek se hospedava.
3) Na construção do Setor Militar Urbano, o então ministro da Guerra, marechal Henrique Teixeira Lott, critico da modernidade dos traços de Niemayer, indagou-lhe se as instalações do Exército seriam “assim, moderninhas” ou se seguiriam à linha da arquitetura tradicional.
Niemayer respondeu ao ministro da Guerra com outra pergunta:
- Marechal, numa guerra o senhor prefere armas modernas ou as armas tradicionais?
E o marechal Lott se calou.
4) O neto de Niemayer disse ao jornalista Alexandre Garcia que o avô lhe contou que, na construção de Brasília, poderia ter saído riquíssimo se tivesse aceitado as ofertas dos fornecedores e empreiteiros para priorizar as compras e ajudar a superfaturar a obra.
5) Quando perguntaram a Niemayer o motivo das colunas que contornam e se sobressaem na Catedral de Brasília, ele respondeu que imaginou os fiéis em prece com as mãos espalmadas uma contra a outra.
6) E por que a concha que representa a Câmara Federal está voltada para cima e a do Senado é voltada para baixo?
Niemayer disse que a concha da Câmara tem “a boca” para cima porque a Câmara representa a sociedade e está aberta às sugestões populares; o Senado tem a "boca" para baixo porque representa o Estado e decide para o Estado.