O senador Fernando Collor sabe que comprou uma briga feia com a chamada “grande imprensa”, mas não tinha opção: ia à forra ou calava-se para sempre.

Há sim uma má vontade em relação ao Collor, que se irradia e atinge a imprensa, e isso vem de lá atrás.

Mas há também algo de irônico nessa relação tempestuosa. Por exemplo: o Fiat Elba que virou peça do impeachment de Collor na presidência da República estava sendo usado por jornalistas que cobriam a Casa da Dinda, quando se envolveu num acidente.

E o Collor só soube do acidente, muito tempo depois.

Collor é jornalista e trabalhou na sucursal do Jornal do Brasil em Brasília, mas nada disso serviu para aplacar a ira que alguns dos colegas têm contra ele.

Eleito senador em 2006, no rastro de uma confusão no quadro político alagoano causado pela instabilidade do então governador Ronaldo Lessa, ele chegou ao Senado sob expectativa. Mas, não pode se queixar de hostilidades.

A exceção é a imprensa, com quem não se entende. Num episódio marcante, logo no início do mandato, Collor disse a um grupo de jornalistas que o cercavam que só daria entrevista para o Diego Gentille – que na época era o repórter do CQC (Custe o que Custar), o polêmico programa da Rede Bandeirantes que mistura jornalismo com humor.

- E por que o senhor só vai dar entrevista para o Danillo? – perguntou um repórter.

- Porque dos palhaços que estão aqui, ele (Danillo) é o único autêntico – respondeu Collor.

A trombada só agravou a situação e, ao firmar a posição na CPI do Cachoeira denunciando e cobrando a punição para os diretores e jornalistas da revista Veja envolvidos com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, o senador Collor sabe que ampliou o leque de inimigos.

Agora estão todos juntos contra ele.

Mas, o irônico dessa situação é que quando o senador Fernando Collor abre a boca é como se estivesse reproduzindo o que o PT e o ex-presidente Lula queriam dizer em público e não podem nem devem.

Deu-se então, assim como se por osmose, essa mistura que se imaginava heterogênea no passado recente. E o PT, quem diria, agora precisa do Collor para pode reagir no piquete.