Quando o “Jornal da Tarde” fechou foi como tivesse morrido mais um companheiro da velha guarda. Na década de 1970, quando comecei no jornalismo, o “JT” era a referência do jornalismo moderno que o Márcio Canuto imprimiu na Gazeta.

O Márcio era o editor da Gazeta e fez a transição do sistema linotipo para o “off set”. Aliás, o Márcio Canuto é o melhor editor em Alagoas até hoje e não é só pela oportunidade de ter feito essa transição, mas porque o Márcio cheira, percebe e vibra com a notícia. Coisa rara.

Foi o Márcio Canuto, por exemplo, quem cunhou para o resto do país o termo “dinheiro de plástico”, para se referir ao cartão de crédito. Lembro-me da noite na redação da Gazeta, quando o Márcio já com a página diagramada ao estilo “JT”, consultava:

-“Eu posso chamar o cartão de crédito de dinheiro de plástico, não posso?”

Pois bem, o fechamento do “Jornal da Tarde” foi como a morte de uma referência que teimava em se manter firme num mundo que exige inovação sempre.

Não sou daqueles agourentos que sustentam que os jornais vão acabar, mas também não sou daqueles efusivos que mantém a ilusão sobre a fidelidade eterna do leitor. Ninguém vai comprar um jornal cuja manchete é uma notícia de ontem.

Está aí, portanto, o desafio dos impressos. O jornal que vai sobreviver será aquele cuja manchete amanhã será uma notícia de depois de amanhã. E isto é possível? Claro, não só possível como é imperioso que já esteja sendo adotada nas redações.

Senão, a tendência é o que estamos observando: a queda brusca da tiragem e da circulação. Imaginem que, de acordo com o IBGE, quase 30% da população alagoana já está conectada a Internet e isto representa perto de 1 milhão de pessoas ou 1 terço da população.

E a tendência é crescer mensalmente.

Antes, uma casa precisava de uma geladeira, depois precisava de uma televisão, e agora para ser completa uma casa precisa de um computador interligado à Internet. O computador e a Internet fazem parte do lar moderno.

Os jornais, ou os impressos diários, sentiram mais o baque com o advento da Internet, mas não só eles. Pasmem! A televisão também sentiu; o jornalismo na televisão já não dá mais o Ibope que dava antes da Internet.

Não há nada que o jornalismo impresso, amanhã, ou o jornalismo televisivo, à noite, vá divulgar que já não tenha sido divulgado na Internet. Portanto, essa é uma questão que não só os empresários, mas os jornalistas, devem estar atentos.

Veio-me agora a notícia do fechamento de “O Jornal” e confesso que não me surpreendeu, ainda que tivesse me deixado muito sentido. Foram vários os erros cometidos e o mais grave deles foi transformar “O Jornal” em folhetim político-eleitoreiro.

É um erro primário confundir leitor com eleitor e o resultado não poderia ser diferente. Dá uma pena danada vê um jornal fechar e dois deles, especialmente, levaram com eles uma referência de toda vida, um pedaço de mim: o “Jornal da Tarde”, onde aprendi com o Márcio Canuto a fazer jornal moderno, e o “Jornal do Brasil”, onde trabalhei por 12 anos.

E nesses 12 anos no “JB” vejo hoje os meus ídolos e companheiros da redação lá na sede nova na Avenida Brasil, 500, em São Cristovão, atuantes: Paulo Henrique Amorim, Jorge Pontual, Dora Krammer, Ricardo Noblat, Ancelmo Góis, Willams Wach, Luiz Carlos Latgé, Roberto Benevides, Marcos Sá Correia, Gilberto Paoletti, Hedyl Valle Jr., enfim, tantos outros que entenderam os sinais das trombetas e dos guardiões da mídia e não “morreram” com os jornais.

O “JB” e o “JT” se juntam agora a “O Jornal”, que “morreu” na semana passada. Mas, que não se diga que “morreram assassinados” pela Internet, como erroneamente insinuou a nota fúnebre do “JT”.

Os jornais “morreram de velhice”. E o pior, uma velhice opcional, com uma tragédia anunciada, líquida e certa.

Ou seja: os jornais que “morreram” e os que estão “morimbundos”, não quiseram entender ou não entenderam o recado segundo o qual ninguém deve deixar para amanhã o que pode saber hoje.

Que descansem em paz.