Com o golpe militar de 1964, o presidente do Sindicato dos Correios em Alagoas, Jarmelino Jorge, foi preso e levado para a Ilha Grande, no Rio de Janeiro.

“Seu Jorge”, como eu o chamava, foi considerado como “comunista perigoso”. Acho que é o único alagoano preso em 64 na Ilha Grande.

Pois bem; “seu Jorge” ficou na mesma cela do ator e compositor Mário Lago. No livro “1º de Abril”, que Lago escreveu depois, cita o companheiro de cela Jarmelino Jorge.

O “seu Jorge” dizia que os militares cometeram verdadeira burrice quando juntaram os presos políticos com os presos comuns.

E citava o exemplo de Mário Lago, que chegou à Ilha Grande como estrela; afinal, era o autor de um samba famoso (Amélia) em parceria com Ataulfo Alves, e os presos comuns o veneravam.

A burrice cometida pelos militares foi porque a convivência com os presos políticos levou à conscientização dos presos comuns sobre os seus direitos. Mais que isso: sobre o poder que teriam se se organizassem de dentro para fora dos presídios.

Esse exemplo serve para entender o que se passa hoje nos presídios brasileiros, com a organização de facções criminosas, que se tornaram em verdadeiras entidades do crime.

É como se o preso já tivesse a consciência sobre a incapacidade de recuperação para o convívio social e transformasse o crime em “trabalho”. Um “trabalho de risco”, sem dúvida, daí a necessidade de se organizarem.

Existe um fundo que mantém essas organizações. Cada preso deve cooperar numa espécie de “dízimo do crime”, que fica lá no caixa para ser usado no pagamento de honorários dos advogados ou no socorro às famílias de presos carentes.

O fluxo é grande, pois de cada 10 presos, 9 são reincidentes. E há ainda o preso que “progrediu” na escala do crime, e de simples punguista se transformou em perigoso assaltante, assim como a cadeia especializa e promove pequenos traficantes em grandes traficantes.

Essa é a situação do sistema prisional brasileiro, onde o crime penetrar por vários furos. Existe em torno dos presídios um grande negócio que é fechado às escondidas, e que, infelizmente, contamina toda a estrutura.

Não é novidade, portanto, o envolvimento de agentes penitenciários na facilitação de entrada de drogas e armas no presídio. Não se deve generalizar, é verdade, mas é muita inocência daqueles que se dizem surpreendidos e estarrecidos.

Ora, pois, quem foi que criou e quem alimenta essa situação?