Eu sempre desconfiei de que o discurso sobre melhoria na qualidade do ensino público era panfletário, uma balela que os grevistas apresentam como bandeira para enganar os otários. Ninguém - eu disse ninguém - veio ao Congresso Nacional até hoje para lutar pelas melhoria do ensino público gratuito.

Mas vieram para exigir as cotas. Um grupo de irmãos de cor ocupou o corredor das Comissões no Senado e bradou ameaçadoramente: ou as cotas seriam aprovadas ou iriam parar o país - diziam eles.

Triste, simplesmente triste. Essa versão de que as cotas são reparações pelos danos pretéritos não me convence. A verdadeira reparação somente se dará quando for possivel igualar as oportunidades para todos; se o negro, o pardo e o índio não conseguem chegar à universidade porque não tiveram acesso a uma educação pública eficiente, que lutem e exijam educação de qualidade.

Mas aceitar a cota é o mesmo que aceitar esmola. Há os que se contentam com isso, mas há os que não aceitam se vender tão barato. Desculpe-me os que pensam o contrário, mas eu penso assim.

Não quero cotas, eu quero aulas! Eu estudei em escola pública (Moreira e Silva) e, em 1975, prestei meu primeiro e único vestibular para o curso de Economia na Ufal e passei em 9º lugar, o que muito me orgulha. Para prestar o vestibular eu passei um ano devorando a coleção completa do Ari Quintella, que era o bambambam da Matemática da época. Foi um esforço pessoal e gratificante.

Não estaria eu hoje tão orgulho assim, se minha aprovação na Ufal tivesse sido na carona das cotas.

As cotas da vergonha na universidade

O Conselho Regional de Medicina de São Paulo decidiu aplicar uma prova com os médicos recém formados e o resultado foi um desastre; de cada 10 novos médicos, 7 foram reprovados.

O resultado não seria diferente se a prova fosse estendida a outros profissionais recém formados, mas o desastre maior é que a prova não serve para habilitar o médico – os 7 médicos de cada 10, que foram reprovados, estão atuando no mercado sem problemas.

Só o exame da Ordem dos Advogados do Brasil serve para selecionar o profissional.

Confesso que me tornei defensor do exame da OAB e passo a defender que seja aplicado a todos os profissionais, especialmente aqueles que lidam com a vida e a morte.

O erro do advogado leva o cliente à condenação, mas o erro do médico leva o paciente à morte.

Que não se diga que existem poucos cursos de Medicina no país, porquanto não é verdade. Para se ter uma ideia, existe no Brasil mais faculdades de Medicina do que nos Estados Unidos.

Imaginemos agora, com o primeiro Exame do Ensino Médio (ENEM) realizado a partir da adoção das cotas para negros, pardos e índios, como ficará daqui pra frente.

Quero dizer que, na condição de negro, sinto-me envergonhado com as cotas porque é mais uma discriminação com os irmãos de cor. O branco foi valorizado porque é cada vez mais branco, enquanto nós negros somos cada vez mais negros carentes de cotas para ser gente.

Se antes da lei das cotas nas universidades 7 de cada 10 médicos formados no maior e mais rico estado são reprovados num teste, imagine depois das cotas.

E o que vai acontecer daqui pra frente é o seguinte: quem procurar um profissional negro, pardo ou índio saberá que eles são inferiores ao profissional branco – que entrou na universidade sem auxílio da cor da pele, ou seja, entrou na universidade exclusivamente pela capacidade intelectual.

Não me lisonjeia as cotas para negro, pardo e índio. Pelo contrário, me envergonham.