O Produto Interno Bruto (PIB) per capita serve tanto como uma medida de riqueza (do ponto de vista macroeconômico) quanto como uma medida de bem-estar social (do ponto de vista microeconômico). Todavia, em ambas as utilizações, o PIB per capita  é uma medida que não se preocupa com desigualdade, i.e, não se importa com as diferenças entre pessoas, apenas com a soma das riquezas produzidas.

Ao observar a economia alagoana entre 1999 e 2009, na ótica do PIB per capita, depreende-se que ela tem crescido abaixo da taxa média do Nordeste. De fato, utilizando-se o deflator do PIB nacional, entre 1999 e 2009, enquanto o Nordeste cresceu, em média, 3,63% ao ano, Alagoas cresceu 2,95% ao ano. Consequentemente, pelo fato de ter crescido abaixo da média, diz-se que Alagoas empobreceu relativamente ao Nordeste nesse período.

Ultimamente, tenho me debruçado sobre os dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010. Nesse sentido, ao analisar o período 2000 a 2010, na ótica da renda domiciliar per capita, nota-se que Alagoas cresceu 4,3% ao ano, enquanto o Nordeste cresceu 4,2% ao ano, tendo o Brasil crescido 2,7% ao ano. Em consequência disso, uma vez que a economia alagoana cresceu acima da média do Nordeste, diz-se que Alagoas enriqueceu relativamente ao Nordeste nesse período.

E, então, perguntei-me: Alagoas empobreceu ou enriqueceu relativamente ao Nordeste, no período recente?

Esse é um dos momentos que me deparo com os limites de explicação da teoria econômica. A propósito, relatei esse fato a dois conceituados amigos economistas, que são especialistas em Economia Regional. E perguntei o que eles achavam. Um me disse que pode ter havido “erro de medida” em uma dessas duas variáveis. O outro me disse que não haveria problema, pois, no longo prazo, esses dois conceitos teriam que convergir. Os dois estão certos, mas, para meus propósitos de tentar decifrar isso, a explicação de “erro de medida” não serve. É claro que alguém pode dizer: “Mas, Alexandre, isso é óbvio: são as transferências federais etc.”. Pode ser, mas não me parece tão óbvio, pois isso pode indicar realmente uma mudança de direção, em termos de crescimento.

Apesar de o conceito de renda domiciliar per capita também eliminar toda a desigualdade existente entre diferentes membros de uma mesma família, tal problema relativo à desigualdade é um problema bem menor do que aquele inferido ao observarmos o PIB per capita, de modo que renda domiciliar per capita crescendo substancialmente significa maior mercado, que pode atrair empresas, atrair mão-de-obra mais qualificada, gerar maior necessidade de ampliar infraestrutura e assim por diante. Em outras palavras, pode gerar um atrator positivo em termos de maior crescimento econômico.

É esperar mais uns 10 anos para verificar se essa renda acima da média vai gerar um PIB acima da média nordestina ou vice-versa; que hão de convergir, não tenha dúvida, resta saber a direção. Enfim, minha única verdade sobre esse fato é que, em tese, a população (em geral) sente muito mais o impacto da renda domiciliar do que o do PIB, que muitas vezes pode estar inflado por exportações, por exemplo, cujos rendimentos nem sempre se espraiam entre os residentes do Estado.