Talvez seja da idiossincrasia do alagoano detestar os conterrâneos que se destacam nacionalmente e até ignorá-los. Não sei explicar o comportamento mesquinho e invejoso, que tem se repetido e não é de agora.

Em 1914, na sua primeira viagem ao Rio de Janeiro, então a Capital Federal, Graciliano Ramos escreveu ao pai desculpando-se por ainda necessitar da mesada dele e queixando-se da “colônia alagoana” – assim mesmo: “colônia”, pois foi Graciliano quem cunhou esse termo.

Escreveu Graciliano ao pai que não teve apoio dos alagoanos que moravam no Rio e até “aquele” que lhe havia prometido emprego sumiu. Uma tragédia na família fê-lo voltar a Palmeira dos Índios – e foi até melhor.

O jornalista Costa Rego era editor do jornal mais influente do país e amigo do presidente da República, Washington Luis, que pediu ao governador Fernandes Lima para apoiá-lo ( Costa Rego) na sucessão.

Costa Rego se elegeu governador e trouxe com ele o chefe de redação, o jornalista Álvaro Paes, a quem fê-lo depois sucessor e retornou para o Rio. A inveja contra Costa Rego e Álvaro Paes era tamanha, que os dois não suportaram.

Em 1930 espalharam o boato de que Juarez Távora estava marchando com a tropa revolucionária para atacar Maceió e Álvaro Paes abandonou o governo e a cidade. Era mentira, mas suficiente para o tempo da metamorfose dos seus antigos assessores.

Graciliano Ramos também se refere a essa metamorfose sem entender como aqueles alagoanos que ontem deitavam bravura, juravam fidelidade ao governador e garantiam estar preparados para a reação, agora desfilavam de lenço vermelho no pescoço – o símbolo da Revolução de 30.

São dois exemplos da história, nessa maneira de ser do alagoano, que parece invejar o conterrâneo bem sucedido e de até ignorá-lo. Vejamos:

Edvaldo Alves Santa Rosa, mais conhecido como “Dida”, é até hoje o único jogador de futebol que saiu de um time de Alagoas (CSA) e chegou à Seleção Brasileira campeã do mundo em 1958. E o que há de referência ao “Dida” em Alagoas, além do denodo do jornalista Lautheney Perdigão?

Nada.

O escritor e imortal da Academia Brasileira de Letras, Ledo Ivo, escreveu “Ninho de Cobras” – que ele nega ter a ver com a sua terra, Alagoas, mas como coincidência não existe, a semelhança no livro é a pura realidade. Para mim.

Não sei se é da idiossincrasia do alagoano; só sei que é assim.

Aquele Phanteon que virou “elefante branco” construído na Praça Afrânio Jorge era para receber os ossos dos marechais Deodoro e Floriano Peixoto, mas as duas famílias não deixaram e continuam lá no Rio de Janeiro.

Talvez as famílias Fonseca e Peixoto estejam preservando a memória dos heróis, que em vida não tinham assim recordações boas da terra natal.

É triste, mas é verdade.

O que seria do Djavan se tivesse ficado em Maceió? E o Jacinto Silva, que muita gente pensa que é pernambucano?

Tem sido assim até hoje e em todas as áreas. Na política, cada avanço do senador Renan Calheiros no cenário nacional é tal qual um golpe para alguns alagoanos. Não se dá prioridade ao estado geográfico, mas ao estado de espírito do mal – que inveja e torce contra.

E eu fico pensando: o que seria de Alagoas sem uma voz de peso em Brasília? E fico sem entender como pode existir alagoano que torce contra.

Ah, já sei: são os alagoanos que sacanearam o Graciliano Ramos, que traíram Álvaro Paes e que envergonham as famílias Fonseca e Peixoto, ao ponta de elas não permitirem que os restos mortais dos seus heróis viessem para a terra natal.

Moral da história: para Alagoas crescer, primeiro é necessário eliminar as cobras do ninho que se renova muita antes de Ledo Ivo.