É verdade que viemos de uma época em que bom mesmo era estudar no Colégio Moreira e Silva ou no Colégio Estadual. Lembro-me do Moreira e Silva e os meus professores no 3º Ano Científico – que mudaram depois para Segundo Grau e ficou pior.
Isto faz tempo, foi lá no começo da década de 1970, mas ainda me lembro dos nomes dos professores – na verdade, a maioria deles eram formandos da Universidade Federal de Alagoas, não eram professores profissionais.
Será que naquele tempo era bom por isso, ou seja, os professores se dividiam entre profissionais e amadores? E os professores amadores davam de tudo na sala de aula, como se compensando a sociedade por mantê-los no ensino superior público?
Fico cá a pensar: ainda hoje, não há no país alguém que conheça mais a língua portuguesa que Graciliano Ramos. Pode existir igual, mas saber mais português que Graciliano Ramos jamsi existirá alguém.
Quem de nós não gostaria de ter sido aluno de Graciliano Ramos?
Mas, se Graciliano Ramos fosse vivo não poderia ensinar porque não tinha diploma de professor; sequer cursou o ensino superior e, no entanto, ensinava Português, Francês e Italiano tão bem quanto um bacharel.
Voltamos ao Moreira e Silva.
Tínhamos lá, no 3º Ano Científico, dois professores de Química: Luiz Augusto ( Inorgânica) e Élcio ( Orgânica ) – que não eram professores profissionais, e sim médicos.
O professor de Física Mecânica era o Camelo, que era engenheiro, e os professores de Biologia eram médicos: Everaldo Moreira (Citologia) e Graça (Genética).
Só o Russeau, professor de Álgebra, e as professoras Renilde Farias, de Gramática, Vera, de Literatura, e Cristina, de História, eram profissionais.
Aprendi muito com eles e foi graças ao ensinamento que me deram que eu passei no vestibular da Ufal para Economia, de primeira. Tempo bom.
Veio então a profissionalização e, não sei se por coincidência ou não, o fim do ensino público de qualidade. Em Alagoas, acabaram com o Colégio Estadual e ainda não acabaram com o Moreira e Silva nem sei por quê. Mas, o Moreira e Silva não é mais o mesmo.
E não há esperança de que a situação vai mudar, ou seja, o governo não vai investir na melhoria do ensino público porque é mais fácil estipular cotas. No lugar de proporcionar qualidade, o governo garante a cota para o aluno oriundo do ensino público de péssima qualidade ingressar no ensino superior.
Um país se constrói com investimento maciço em educação, mas optou-se pelo atalho das cotas: é cota para negro, para pardo, para deficiente, é cota para tudo. E de cota em cota forma-se o todo, que será sempre inferior aos que não preenchem os requistos da epiderme escura ou da origem escolar deficiente.
Porque os que não podem ser beneficiador pelas cotas, têm que se desdobrar. E se ainda assim passaram no funil apertado por cotas é porque são mesmo os melhores.