Dia desses enfrentei um debate público quando disse que “as raças deveriam ser esquecidas”. Fui interpelado. Não saberia eu que “morrem mais negros que brancos” ou que “negros são mais pobres que brancos”?

Bom, na verdade, há muito que se contestar nessas análises estatísticas. Em primeiro lugar, porque elas usam o critério absurdo de considerar pardos como se fossem negros. Trabalham sistematicamente na ocultação da mestiçagem no Brasil. Ademais, também desconsideram que brancos pobres têm os mesmos índices sociais que os negros e pardos pobres...

Mas não é disso que quero falar agora. Quero falar sobre esse argumento do “esquecimento” das raças. Eu me lembro vagamente da primeira vez que ouvi uma piada racista. A piada comparava negros a macacos. Eu devia ter uns 7 anos e me lembro claramente de não ter compreendido a piada. Qual seria a relação entre negros e macacos? Assim, a piada não teve em mim o sentido esperado, simplesmente porque eu não conhecia essa distinção.

E eu não a conhecia porque nunca tinha sido ensinado sobre ela. Minha família e o lugar onde vivi não me ensinaram sobre isso. É isso mesmo, amigos. Ao falarmos o tempo todo de raças e das diferenças de etnia, estamos ensinando o racismo às pessoas. Depois que se ensina a separar e a dividir, não dá para garantir que esse conhecimento das diferenças será usado “para o bem”, como querem os defensores das ações afirmativas.

Vamos a outro exemplo. Meu menino um dia se questionou sobre a cor da pele dele. Eu, que trato tudo com a maior naturalidade, expliquei que as pessoas têm cores diferentes, como têm olhos, tamanhos, estilos e gostos diferentes. Ele é como eu, assim, marronzinho (não uso a denominação oficial “pardo”), mas há pessoas mais escuras e mais claras e isso não tem nenhuma importância.

Porém... Como não vivemos num mundo controlado pelos pais, meu menino aprendeu direitinho o que é o racismo assistindo a uma das séries mais idiotas que alguém pôde produzir, chamada “Everybody hates Chris” ou, em português “Todo mundo odeia o Chris”. Reprisada constantemente na Record, a série é até bem humorada e conta a história de Chris Rock, ator e comediante americano que, por ser negro, vivenciou o preconceito nos EUA de forma aguda e hoje ironiza essa realidade mostrando sua infância na televisão.

O problema é que a série, o tempo todo, enfatiza a divisão. Apesar de o melhor amigo de Chris ser branco, tudo na sua vida dá errado por causa de sua cor e ela é o tempo todo levada em consideração. Não estou pregando censura. Estou apenas dizendo que a série, se não enfatizasse tanto esse aspecto ressentido da vida do personagem, seria mais divertida e menos danosa.

Foi nessa série que meu filho aprendeu o que é racismo e me perguntou por que somente os negros são ladrões. “Onde você viu isso, menino?”. “Vi no Chris”. A vontade foi dizer um palavrão contra esses racialistas... Mas tentei, como sempre, tratar a coisa com naturalidade. Expliquei que se tratava de uma ironia (agora explique a uma criança de 6 anos o que é uma ironia), e que aquilo não era verdade. Retomei meu discurso universalista sobre a naturalidade das diferenças de cor, mostrei nossa cor escura e remediei o mal que o discurso racialista faz.

Eu sei que meu menino uma hora iria aprender o que é o racismo, só não imaginava que seria num programa que supostamente é contra o racismo! A depender de mim, o conceito de raça nunca será determinante em sua formação.

Deixo para o final um vídeo em que Morgan Freeman, ator americano, critica o Black History Month, ou “Mês da História Negra”. Segundo ele mesmo diz, “História Negra é História Americana”. O entrevistador pergunta: “Como vamos nos livrar do racismo?” Resposta: “Parando de falar sobre isso”. Perfeito.

http://www.youtube.com/watch?list=PL9240794F9AAC6D06&v=BOvQnvwbJXw&feature=player_detailpage