Quando alguém fala mal do político, por mais que tenha razão, já não lhe dou tanta razão como dava antes e fico cá a pensar: ele faria igualzinho se estivesse no lugar do político.
A gente tem o mau hábito, e penitencio-me pela culpa da imprensa, de achar que o político é um ser de outro mundo.
Tem uns eleitores que dizem: não voto em ninguém e estes, para mim, são os mais perigosos porquanto não estão decepcionados, mas tomados pela inveja.
O programa CQC produziu uma matéria que é uma das melhores pautas da imprensa brasileira nos últimos anos. Foi aquela dos cinco candidatos à vaga de assessor de um candidato a vereador que a produção do programa inventou só para tentas a honestidade do eleitor.
Dos cinco candidatos, apenas 1 se recusou a praticar as irregularidades propostas como compra de votos, desvio de dinheiro da campanha, caixa 2, boca de urna, enfim, tudo o que a lei proíbe e o cidadão não tem o direito de alegar que desconhece.
Dos cinco candidatos à vaga de assessor, quatro se dispuseram a fazer as ilegalidades. É uma boa média que me serve para reforçar a tese, segundo a qual, a maioria não está indignada com os erros, mas revoltada por não estar levando algum também.
De perto, ninguém é normal.
Ê, ê, ê
Vaca das divinas tetas
Derrama o leite bom na minha cara
E o leite mau na cara do careta.
Mas eu também sei ser careta
De perto ninguém é normal...
(Caetano Veloso – Vaca Profana)
Daí, se de cinco brasileiros quatro são corruptos por vocação, que ninguém nunca mais fale mal dos políticos como se fosse o dono da voz da ética e dos bons costumes.
Somos sim, todos corruptos por vocação. Uns, talvez jamais tenham tempo de se manifestar – ou por falta de oportunidade, ou por falta de valor atraente; e só uma minoria de 1 para 4 se dispõe mesmo a morrer à beira da mesa do banquete, mas não se sabe até quando, pois a relação entre honesto e desonesto já foi muito maior.
PS. Quando falo sobre corrupção eu não estou me referindo apenas a valores financeiros. Também são corruptos aqueles que se desdizem sobre o que disseram antes, porque foram corrompidos pelas benesses que lhe garantiram hoje.
Que ninguém, nunca mais, venha me dizer que o Paulo Maluf é corrupto!