Em Brasília, o embrião da federalização da Polícia Militar já causou o primeiro atrito entre o que não deu certo nem dará jamais – que é o modelo atual de segurança pública no país; e a tentativa de se aplicar outro modelo.

Para os que estão distantes e não sabem, a violência em Brasília chegou ao limite. Na semana passada, sequestraram a filha do ministro da Pesca, Marcelo Crivella, e imagine que o crime se deu na quadra 408 Sul, do Plano Piloto.

No Lago Sul, um assaltante matou um taxista que reagiu ao assalto. Somente no mês passado foram 47 sequestros relâmpagos no Plano Piloto e nas cidades satélites, e isto onde existe a polícia mais bem paga da América Latina.

E também a mais bem aparelhada. Só de micro-ônibus para conduzir a tropa são 60! São cerca de 500 viaturas e mais quatro helicópteros só para a PM e nem assim se consegue estancar a violência no Distrito Federal.

Os arrastões em restaurantes em Brasília já fazem parte do cardápio. Ficar depois das 22 horas num bar é arriscado.

Diante disso, o governador Agnelo Queiroz decidiu pedir ajuda ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, nos moldes do que o governador Téo Vilela fez. Sim, porque o debate sobre a violência virou arrobo para político demagogo, porquanto se o modelo de segurança pública não for mudado a violência amanhã será pior que hoje, que foi pior do que ontem.

O ministro convocou a Força Nacional – deveria se chamar Guarda Nacional – e o comandante da PM de Brasília não gostou. Ele se sentiu humilhado pela interferência e agora a situação tende a feder ainda mais, se alguém não aparecer para tirar da cabeça do comandante da PM o pensamento de revolta à humilhação que ele acha que sofreu.

E a Força Nacional também está no Plano Piloto de Brasília, assim como nos grotões de Maceió. Isto porque os teóricos da segurança pública falharam e os governos – todos, sem exceção – não trataram da questão com honestidade e sabedoria.

Pelo contrário. A polícia foi usada para se fazer carreira política e passa mais tempo reivindicando o reajuste dos soldos do que combatendo o crime.

Ah, sim. A polícia civil de Brasília e de Goiás estão em greve. Mas, não pensem que o movimento paredista contribui para o não cumprimento dos mandados de prisão.

Para piorar a situação, o Tribunal de Justiça suspendeu os mandados de prisão porque o complexo prisional de Brasília não comporta mais ninguém. A Papuda, tem capacidade para 6 mil presos e acomoda – só Deus sabe como – quase 12 mil.

De acordo com o TJ, existem cerca de 6 mil mandados de prisão para serem cumpridos e não tem onde colocar os presos. E sendo assim, todos estão soltos.

A questão da federalização da Polícia Militar é crucial para que se possa alcançar êxito no combate à criminalidade. A alta dimensão territorial do país exige um só comando na segurança ostensiva.

Não pode haver uma polícia boa e equipada no estado tal e uma polícia má no estado qual.

Mas, não é só com outra política de segurança pública que o país vai resolver esse “problema nacional” da violência. É importante também que as leis sejam mais rigorosas e a sua aplicação célere para punir quem delinquiu.