Todos os dias já acordamos com a pauta de tarefas a cumprir assoberbada de missões e muito trabalho. O despertar parece mais um empurrão para o cadafalso a um amanhecer digno de sorrir e abraçar a vida, como penso que deveria ser. Ao menos é assim na vida de um advogado criminalista, professor, conselheiro da OAB, escritor, blogueiro, maratonista, marido e pai.
O celular tocando às seis da manhã por um cliente ávido a obter informações sobre seu processo, ou o personal que liga avisando que já está lhe esperando para uma sessão de tortura (leia-se academia), ou o sol que lhe chama para vencer os quilômetros daquela corrida deliciosa, ou o blogue que precisa de atualização, ou aulas a preparar, ou mais projetos de livros a escrever, ou isso, ou aquilo, ou...
De repente tudo se explica ou se complica em um abraço ingênuo, um sorriso infantil e um beijo na bochecha da minha Catatau (Liz de apenas um ano e oito meses) que logo logo se transformará em um choro incontido quando a terrível frase precisa ser anunciada “Papai, precisa trabalhar!” e a separação dos corpos se dá da forma mais dolorosa e sofrível possível.
Ela chora de um lado, não compreendendo o porquê daquela abrupta separação já que me doou tanto carinho, afeto e amor ao desejar o bom dia ao papai que já havia passado o dia anterior inteiro longe de seus olhos e de suas brincadeiras. Por outro lado o choro também do pai, calado, contido que também não entende porque tudo precisa ou tem que ser daquele jeito.
Naquele momento penso ser eu o aprendiz e aquela pequenina a minha mestra dando lições mais eficazes que qualquer pós-doutorado possa servir para a vida. Sigo relutante o caminho em frente sem poder voltar e passar o dia inteiro envolto em suas mágicas brincadeiras e soluções aos problemas de seu cotidiano infantil.
Bem baixinho digo a mim mesmo que preferia ficar naquele aconchego gostoso dos seus braços miúdos e carinha sempre feliz a contemplar a relação mais sincera que já pude conhecer: a de pais e filhos.
As lições de minha pequenina são eficazes e já confessei aqui que muitas vezes cedo aos seus ensinamentos e largo tudo para cantar e dançar com ela as músicas que, embora infantis, ensinam coisas há muito tempo esquecidas pelos adultos: sinceridade, amizade, lealdade, carinho, afeto, amor, dedicação, devoção, respeito.
Pois bem. Nesta troca onde aprendo com os gestos gigantes de uma pequena professora de apenas um ano e oito meses reluto em não ser um aluno rebelde que infelizmente tem que se retirar da “sala de aula” para conquistar a vida a fim de que a mestra continue sua tarefa de ensinar o amor, distribuir o carinho e ser feliz só e tão somente com a simples presença deste aluno em suas aulas de sabedoria, humildade e sorrisos sinceros.
Voltarei e ficarei mais vezes com ela, contemplando lições que jamais terei de outras pessoas, as lições imperdíveis dos nossos filhos!