A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) abriu os cofres para bancar passagens, hospedagem e alimentação dos 60 clubes que disputam as Séries C e D do Campeonato Brasileiro. A entidade não revela as cifras, mas os valores gastos ultrapassam a casa dos milhões de reais.
A medida foi anunciada com pompa pelo presidente José Maria Marin em maio, e aumenta diretamente o faturamento da Pallas Turismo Esportivo, empresa que mantém exclusividade com a CBF nos pacotes de viagens.
A Pallas integra o Grupo Águia, de Wagner José Abrahão, amigo de Ricardo Teixeira, citado na CPI do futebol e em outros processos.
Além de bancar os clubes, a CBF inchou a tabela da Série C, aumentando os gastos.
O novo modelo adotado pela CBF para a disputa da Série C triplicou o número de partidas em que são necessários deslocamentos aéreos --distâncias superiores a 700 km, segundo o regulamento.
A CBF oferece pacote completo para até 25 pessoas por time visitante em todas as partidas, com passagens, hospedagem e refeições incluídas, tudo fornecido pela Pallas. Viagens de até 700 km são feitas de ônibus.
Pelo novo regulamento, a Série C passou de 106 partidas em 2011 para 194 em 2012. Somando-se aos 190 jogos da Série D, cujo formato não mudou, são ao todo 384 partidas.
Em uma conta simples, são aproximadamente 9.600 pacotes vendidos pela Pallas.
Segundo levantamento feito pela Folha, em 2011, a primeira fase da Série C teve 80 jogos, sendo metade deles com trajetos aéreos. Em 2012, dos 180 jogos da primeira fase, 120 (66%) são contemplados com deslocamentos aéreos. Em números absolutos, a CBF triplicou a quantidade de jogos cujos deslocamentos ultrapassam os 700 km.
No ano passado, a primeira fase da Série C era formada por quatro grupos de cinco times cada, e sob critério geográfico: times do mesmo Estado e/ou região geralmente estavam no mesmo grupo. Em 2012, são apenas dois grupos com dez clubes cada.
"Quem joga perto e joga longe vão ter o mesmo equilíbrio e a mesma forma de atuar [...] O investimento é, de longe, o maior que a CBF faz, de qualquer competição da CBF", disse o diretor de desenvolvimento e projetos da entidade, Reinaldo Carneiro Bastos, no vídeo divulgado pela CBF em maio sobre o custeamento da Série D.
Politicamente, a iniciativa de Marin faz sucesso, ao menos entre os clubes ouvidos pela reportagem. "É uma boa economia que fazemos, estimamos em R$ 150 mil pelos nove jogos como visitante. Isso dá uma tranquilidade para o clube", disse Mauro Guerra, diretor do Oeste.
"Fazíamos viagens em que gastávamos R$ 50 mil, o custo é alto, principalmente para clubes do Norte", afirmou Sérgio Papellin, gerente do Luverdense, de Lucas do Rio Verde, Mato Grosso.