Desde que assumiu o governo em janeiro de 2011, a presidente Dilma Rousseff já mostrou que tem posições e estilos diferentes do padrinho político, o ex-presidente Lula. Ela tem demonstrado uma atitude diferente na hora de conduzir a negociação com mais de 30 categorias de servidores públicos federais em greve em todo o País.
Dilma tem adotado uma postura mais rígida com os grevistas. O Ministério do Planejamento, pasta responsável pelo diálogo com as categorias do funcionalismo público, chegou a suspender as negociações com os sindicalistas, por ordem dela. O ministério baixou um decreto que obriga servidores estaduais a substituírem os federais em caso de greve e tem brigado na Justiça para "impedir os excessos".
Lula era diferente, segundo os sindicalistas. Sentava para negociar, não se fechava para o diálogo e fez vários acordos durante os dois mandatos.
O diretor de estratégia sindical da Fenapef (Federação Nacional do Policiais Federais), Paulo Paes, diz que Dilma tem conduzido as negociações "com mãos de ferro".
— O governo Lula analisava tecnicamente as questões sindicais, mas tinha noção da importância da valorização do servidor público. Dilma olha o lado técnico, o cenário mundial.
A principal diferença dos dois governos petistas, para ele, é a disposição para negociar.
— Lula preferia tentar entender e atender o servidor com o que ele achava que a categoria merecia, mesmo que não fosse o que a categoria queria.
O presidente da FenaPRF (Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais), Pedro Cavalcanti, concorda com as diferenças apontadas por Paes. Na opinião dele, a palavra que resume a diferença entre o perfil de Dilma e Lula em relação às greves é diálogo.
— Acho que, por ter vindo da base sindical, Lula se identificava com as causas. Sabia se relacionar, dialogar.
O diretor da Andes (Sindicato Nacional Dos Docentes Das Instituições De Ensino Superior), Josevaldo Cunha, é menos crítico à postura da presidente. Diz que ela assumiu o governo num momento em que há uma crise financeira.
— Eu acredito que, na essência, a política do governo de Dilma não mudou nada em relação à de Lula. Principalmente no que diz respeito à negociação com os grevista; com ele, era igual. O que mudou foi o cenário – a conjuntura nacional e internacional. Ele passou por situações semelhantes, mas era um momento de calma e isso facilita acordo.
Trajetória política
O cientista político da UnB (Universidade de Brasília) David Fleischer avalia que são evidentes as diferenças entre Dilma e Lula na condução de negociações com os grevistas. O motivo, para ele, é a trajetória de vida e como os dois se construíram como figuras políticas.
— Lula nasceu no movimento sindical, então ele entendia e entende de negociação. Dilma começou a vida política na administração municipal e estadual e não foi líder sindical. Essa diferença muito grande de experiência na hora de resolver as questões sindicais muda tudo.