O governo federal espera que o investimento na construção de mais 10 mil quilômetros de ferrovias – uma das metas do plano de infraestrutura divulgado na última quarta-feira (15) – ajude não só a aumentar o volume de cargas, mas também a ampliar o leque de produtos transportados por trem no país.
O Brasil tem hoje 28.692 quilômetros de trilhos sob concessão, por onde foram transportados, em 2011, 475,1 milhões de toneladas úteis (total de carga movimentada no transporte remunerado). De 1997, ano da concessão das ferrovias federais, até o ano passado, o aumento na movimentação de carga pelo setor foi de 87,6%.
Entretanto, a variedade de produtos transportados pouco mudou de lá para cá. Pelos trilhos brasileiros passam, basicamente, minérios, produtos siderúrgicos e, mais recentemente, produtos agrícolas. De acordo com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), das 435,2 milhões de toneladas úteis movimentadas por ferrovias em 2010, 324,8 milhões (74,6%) foram de minério de ferro.
“O minério de ferro domina o transporte de carga por trilhos porque não tem alternativa para levar o produto até os portos. Mas isso incomoda o governo. Com a nova malha que vai surgir a partir do Programa de Investimentos em Logística, esperamos que mais produtos venham a ser transportados por trem”, diz ao G1 Bernardo Figueiredo, que comanda a Empresa de Planejamento e Logística (EPL), estatal criada na semana passada e cujo objetivo será promover o desenvolvimento do sistema de transporte no país.
Investimento
O Programa de Investimentos em Logística prevê a construção de 12 novos trechos ferroviários no país, num total de 10 mil quilômetros e ao custo de R$ 56 bilhões nos próximos 5 anos. O governo quer que os trilhos estejam prontos para receber trens e vagões até 2018.
Entre os trechos que estão previstos no plano e que devem ajudar a aumentar o leque de produtos transportados por ferrovia estão o que vai ligar o Rio de Janeiro a Vitória (ES), Salvador (BA) a Recife (PB) e São Paulo a Rio Grande (RS).
Mercado interno
O presidente da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), Rodrigo Vilaça, aponta que as ferrovias hoje em operação no país foram construídas para transporte de carga pesada com destino a exportação. É o caso da Estrada de Ferro Carajás, operada pela Vale, e que liga as minas da empresa no Pará ao porto de São Luís (MA).
De acordo com Vilaça, 76% da carga levada por trilhos hoje no Brasil são para exportação. Para ele, os novos trechos ferroviários anunciados pelo governo vão permitir algo praticamente inexistente: transporte interno de produtos por trilhos, competindo com caminhões e até com a cabotagem.
“A nova malha anunciada pelo governo, além da ferrovia Norte-Sul, tem característica de movimentação interna”, diz o presidente da ANTF, que elogia o plano de investimento.
Segundo ele, os trilhos serão competitivos em deslocamentos de 500 a 1.500 quilômetros dentro do país. Por isso, trechos como os que vão ligar Belo Horizonte (MG) a Salvador (BA) e São Paulo a Rio Grande (RS), devem se tornar opções atrativas para produtores e empresas que quiserem transportar carga internamente.
Vilaça afirma que, nos últimos anos, já se registrou uma maior diversificação de produtos carregados nos vagões nacionais. Ele cita o caso dos materiais de construção e de produtos agrícolas, como soja e açúcar, cujo crescimento no volume transportado, entre 2010 e 2011, foi de 217%.
Para ele, com o início da operação dos novos trechos, produtos como peças automotivas e contêineres com alimentos e carga frigorífica devem ganhar espaço nos trilhos.