O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, afirmou, em discurso realizado neste domingo (19), na embaixada equatoriana em Londres, que os Estados Unidos devem parar de ameaçar o site. “Peço ao presidente Obama que faça o correto, que os EUA devem renunciar a caça às bruxas sobre o WikiLeaks”, disse.
Assange, que não chegou a sair da embaixada, falou de uma sacada por cerca de 10 minutos. Ele pediu ao governo dos EUA que acabe com a perseguição à mídia e aos indivíduos que vazaram documentos oficiais. “Bradley Manning deve ser liberado”, disse o fundador do WikiLeaks sobre o soldado dos EUA que vazou documentos confidenciais.
Assange também afirmou que a polícia britânica tentou entrar na Embaixada do Equador em Londres na última quarta-feira (15), mas que a presença de seus seguidores e da imprensa inibiu a ação. Assange agradeceu a todos que estão lhe dando apoio e ao Equador, que lhe concedeu asilo político. "Agradeço a esta corajosa nação latino-americana e ao presidente (Rafael) Correa pela coragem, e em especial ao Ricardo Patiño (chanceler equatoriano)", disse.
Ele pediu que os países da OEA (Organização dos Estados Americanos), com reunião prevista para a próxima sexta-feira em Washington, "defendam o direito ao asilo". "Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, El Salvador, Honduras, México, Nicarágua, Argentina, Peru e Venezuela", enumerou Assange. Neste domingo, a União das Nações Sul-Americanas (Unasul) tem reunião marcada, em Guayaquil, visando analisar a situação diplomática derivada da decisão de conceder asilo a Julian Assange.
Salvo-conduto
O ex-juiz espanhol Baltasar Garzón, advogado de Julian Assange, assegurou neste domingo em frente à embaixada do Equador em Londres que espera "uma resposta formal" britânica ao pedido de salvo-conduto apresentado por seu cliente para deixar o país.
"Para conseguir o salvo-conduto, a primeira coisa que precisamos é de uma resposta formal do governo britânico, estamos esperando que isso aconteça, e o passo seguinte tem que ser do governo equatoriano", disse Garzón na embaixada de Londres.
"Vamos exigir a concessão de um salvo-conduto, apoiar iniciativas da justiça que possam surgir a partir do Equador e esperar a ação do governo do Equador sobre isso", acrescentou.
WikiLeaks quer garantia da Suécia
O número 2 do WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson, assegurou neste domingo em declarações à AFP que se a Suécia se comprometesse a não extraditá-lo aos Estados Unidos, seria uma "boa base para negociar" uma saída para Assange.
"Seria uma boa base para negociar, uma maneira de encerrar este assunto, se as autoridades suecas declarassem sem nenhuma reserva que Julian (Assange) nunca será extraditado da Suécia aos Estados Unidos", indicou o porta-voz.
"Posso assegurar que ele (Assange) quer responder às perguntas do promotor sueco há muito tempo, há quase dois anos", acrescentou Hrafnsson.
A Suécia reagiu rapidamente: "O suspeito não tem o privilégio de ditar suas condições". "Se o WikiLeaks quer dar uma mensagem deste tipo, deve fazê-lo conosco diretamente, de maneira convencional", disse um porta-voz do ministério das Relações Exteriores.
Histórico
Com asilo político concedido pelo Equador, mas sem poder deixar a embaixada do país em Londres, o futuro de Julian Assange é incerto, e os temores de uma deportação para a Suécia crescem diante do impasse.
O fundador do site WikiLeaks entrou na embaixada do Equador em Londres no dia 19 de junho, depois de esgotar todas as opções legais contra um pedido de extradição à Suécia, onde é acusado de crimes sexuais, o que ele nega.
A decisão do Equador de conceder asilo diplomático a Assange foi divulgada nesta quinta-feira (16) pelo chanceler do país Ricardo Patiño.
A Grã-Bretanha se disse decepcionada com a decisão equatoriana e ressaltou que ela "não muda nada". "De acordo com nossa legislação, já que Assange esgotou todas as possibilidades de recurso, as autoridades britânicas estão obrigadas a extraditá-lo para a Suécia", informou o governo de Londres.
Além disso, a diplomacia britânica destacou que ainda busca uma solução negociada que permita cumprir com as obrigações dentro do tratado de extradição.
Vítima
Desde que se entregou à Scotland Yard, em dezembro de 2010, o fundador do WikiLeaks, site especializado em vazamento de documentos, sempre se apresentou como vítima de "perseguições" em seu combate para "libertar a imprensa" e "desmascarar os segredos e abusos de Estado".
Declarou-se "ameaçado de morte", denunciou um "boicote econômico" e falou de um complô produzido pelas autoridades americanas para deportá-lo a Guantánamo via Estocolmo.
O WikiLeaks é o pesadelo de Washington desde a divulgação de milhares de documentos americanos, de mensagens militares secretas sobre as guerras de Iraque e Afeganistão e de telegramas diplomáticos confidenciais.
Assange, de 40 anos, disse estar "abandonado" por seu país de origem, a Austrália. Criticou a regularidade dos tribunais britânicos em querer enviá-lo à Suécia para responder às acusações - infundadas, segundo ele - de estupro e agressão sexual denunciadas por duas mulheres.
A primeira pessoa que aplaudiu sua solicitação de asilo foi sua mãe, Christine. "Bom trabalho, garoto", disse, da Austrália, chamando-o de "prisioneiro político".
Apoio do Equador
Assange contou, desde o início, com o apoio do presidente equatoriano. Quando o entrevistou, em abril, Rafael Correa disse estar diante de um homem "perseguido, caluniado, linchado midiaticamente" depois de ter colocado os Estados Unidos "em xeque".
A entrevista fazia parte de uma série de programas políticos polêmicos na rede de televisão internacional russa pró-Putin RT.
Recluso na embaixada do Equador, o australiano de cabelos brancos e sorriso muitas vezes sarcástico agora vive um impasse. É bem vindo no país sul-americano, mas não tem meios para deixar a embaixada em Londres sem ser detido.
'Homem do Ano'
Assange foi considerado o "Homem do Ano" pela revista americana Time e recebeu prêmios de defensores dos direitos humanos.
Hoje o homem que disse ter inventado "o primeiro serviço de inteligência do povo do mundo" parece estar um pouco sozinho. A maioria dos meios de comunicação que o apoiaram divulgando suas informações se distanciaram. Ele também já mudou várias vezes de advogados e se irritou com seu editor, que terminou por lançar uma autobiografia "não autorizada". "Posso ser uma espécie de porco chauvinista, mas não sou estuprador", afirmou Assange no livro.
Em seu combate para existir midiaticamente, chegou a dublar a voz de seu próprio personagem na série de desenhos animados americana Os Simpsons, em um exercício de autocrítica pouco comum a ele.