Diante do crescimento vertiginoso dos crimes banais e do número de vítimas de homicídio no estado, a população clamou por socorro público e exigiu atitudes drásticas. Muitos relembraram os áureos tempos dos coronéis e delegados que agiam acima da lei, esquecendo-se que mais do que combater o criminoso “pé-de-chinelo” eles também acumulavam as funções policiais e jurisdicionais, uma vez que investigavam, julgavam (torturando) e condenavam, muitas vezes à morte, e sempre sem o direito à defesa.
Naquele tempo talvez a criminalidade não fosse tão grande, chocante e banal quanto nos dias atuais, mas ela existia e na maioria das vezes era orquestrada por pessoas públicas e senhores da alta sociedade alagoana. A favor deles uma mídia silente e arcaica, um povo conivente e subserviente.
Entretanto, desde aqueles tempos, Alagoas vem perdendo investimentos em educação, em especial a básica, faltam vagas, professores, competência e boa vontade do poder público, situação, aliás, que se repete nos demais estados brasileiros. Mas que em Alagoas é ainda pior, pior que em qualquer outro lugar do país.
A educação há algumas décadas perde espaço para investimentos de infraestrutura destinados à classe média. Seja na construção de estradas, ou de elefantes brancos. Investem milhões em obras estruturais, enquanto faltam leitos para grávidas e para todos os doentes. Carência essa que atinge a todos os alagoanos, dependentes de assistência pública ou não.
A precarização da educação em nosso estado, muito mais do que as drogas (problema decorrente também da falta de educação), levou ao crescimento da violência em nosso estado, chegando a níveis inaceitáveis e fazendo com que a população fosse às ruas e exigisse uma atitude do poder estatal.
Como resposta, Alagoas sedia o plano de segurança pública, programa federal de combate à criminalidade. Resultando, como previsto, em eventuais abusos, como a invasão injustificável à casa do sociólogo Carlos Martins (veja aqui), mas os que exigiram o retorno dos “delegados” e “coronéis” de outrora não hão de se incomodar com “enganos” exculpáveis pelo Chefe do Poder Executivo Estadual.
Recentemente, um deputado federal por Alagoas fez uso da tribuna para dizer que “o crime de mando não existe mais porque a polícia e a Justiça agem com rigor. O crime de pistolagem, o apadrinhamento, a impunidade, tudo isso acabou”. Entretanto, para surpresa geral, ao menos do Deputado, todos os jornais de hoje (17) publicaram a notícia da execução do fazendeiro palmeirense Reyneri Canales, que se não foi morto por pistoleiros, não sei o que eram. Veja aqui.
Pois é, caros leitores, o preço pago pelo sociólogo é o que todos os alagoanos pagam diariamente por se verem diante de medidas que nascem da desesperada necessidade de alcançar resultados, o que talvez pudesse ser evitado se, concomitantemente, houvesse investimentos na educação, visando Alagoas no futuro.
Medidas que reduzem o problema da criminalidade relacionando-o ao crescimento do consumo de drogas e nega nosso passado e presente de impunidade, de falta de educação de qualidade, assim como de políticas públicas em benefício de poucos, enquanto a imensa maioria dos alagoanos passa por todas as necessidades, não poderão levar a uma Alagoas muito diferente dessa que lamentamos.
“Vivemos esperando dias melhores, dias de paz, dias a mais, dias que não deixaremos para trás...”, mas são poucos os que fazem algo por esses dias tão esperados.