Finalmente a presidente Dilma visitará Alagoas; a data está marcada para esta sexta-feira, 17, e a presidente vem para inaugurar a maior planta de produção de PVC da América Latina.

Não há PVC melhor no mercado latino; quiça no mundo, sem ufanismo. Assim como não há no país reserva de sal-gema melhor que em Alagoas – são seis reservas de sal-gema de valor industrial no território nacional, mas nenhuma se iguala à reserva que vai do mangue de Bebedouro até o Riacho Doce.

O sal-gema é um mineral extraído a 1 mil quilômetro de profundidade no mangue de Bebedouro. Submetido ao processo da eletrolise, o sal-gema se decompõe em Cloreto de Sódio, Cálcio, Magnésio e Ferro – mas, 99% é Cloreto, que misturado ao Eteno dá o Dicloretano, que se decompõe em PVC e MVC.

Parece tudo muito fácil, mas o que a presidente Dilma vem inaugurar nesta sexta-feira é o resultado de muita luta, com muitos heróis – e, infelizmente, também alguns traidores.

Na década de 1980, o então governador Guilherme Palmeira tentou a planta de PVC e numa audiência com o ministro Camilo Pena, da Indústria e Comércio, o ministro retirou da gaveta um relatório enviado por “ambientalistas alagoanos” denunciando que o polo cloroquímico de Alagoas tinha sido construído numa área de mangue, em Marechal Deodoro.

E, por isso, a concessão para a planta de PVC seria dada ao Rio Grande do Sul. Foram esses “ambientalistas” os traidores da luta que começou no governo Guilherme Palmeira com a perseverança de Evilásio Soriano.

Também passou por Renan Calheiros, quando foi diretor da Petroquisa, no governo Itamar Franco, até desabrochar agora porque, finalmente, o mercado foi obrigado a ver o que disfarçou da visão por tanto tempo.

São seis municípios com as reservas do mineral sal-gema de maior valor industrial, no país. Vamos a eles: Nova Olinda, no Amazonas; Itaituba, no Pará; Luiz Correia, no Piauí; Vera Cruz, na Bahia; Rosário do Catete, em Sergipe, e Maceió – que é a única reserva na capital.

Mas, como tudo em Alagoas é complicado, essa reserva de sal-gema foi descoberta por acaso, na década de 1950. O baiano Euvaldo Luz, mecânico de sonda responsável pela manutenção das sondas da Petrobras, descobriu fragmentos do sal-gema numa sonda usada na perfuração de poços em Riacho Doce e guardou o segredo.

Euvaldo tinha a ideia, mas não tinha dinheiro para explorar industrialmente o projeto. Mesmo assim, ganhou a concessão e se juntou à francesa Du Ponto, que depois se juntou a Dow Química e tirou o Euvaldo do negócio.

Mas, a Salgema Indústrias Químicas S/A não conseguiu andar com os próprios pés. Pudera, em 1977, no dia da inauguração, a General Eletric atrasou a entrega do transformador e a célula d e eletrolise não funcionou. E sem eletrolise, não tem química.

O governo militar encampou pela Norquisa, mas a Salgema foi privatizada e pertence hoje ao Grupo Noberto Odebrecht – que não pode se queixar; pelo contrário, o solo alagoano é mesmo o paraíso da química moderna.

Imagine que a matéria-prima, ou seja, o sal-gema extraído em Bebedouro, chega à Braskem no Pontal da Barra por debaixo do chão e o meio de transporte é a própria água da Lagoa Mundaú. É o seguinte:

A sonda tritura os blocos do sal-gema e um sugador suga a água da lagoa, que é injetada na tubulação de 7 quilômetros passando por debaixo do chã do Bom Parto, Cambona, Levada, Ponta Grossa, Coreia, Vergel do Lago, Trapiche da Barra, Pontal da Barra e finalmente, Braskem.

A matéria-prima chega na porta, sem custo de frete.

E a produção final é exportada pelo porto exclusivo, sem encargos aduaneiros, sem nada, com destino ao mundo civilizado dos derivados de plásticos leves (MVC) e resistentes (PVC).

O que a presidente Dilma vem inaugurar nesta sexta-feira é apenas um capitulo de uma história que começou com um fragmento de sal-gema encontrado numa sonda da Petrobras, lá pelos idos de 1950.

Gente! Alagoas tem jeito sim. O que falta é arranjar um jeito.