O aumento da cotação do ouro nos mercados nacional e internacional está fazendo com que a Amazônia esteja sofrendo a terceira corrida do ouro, dizem especialistas da área de meio ambiente e de mineração. Eles afirmam que a nova onda deve superar a que levou à exploração do garimpo de Serra Pelada, no sul do Pará, nos anos 70.
De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), desde 2007, foram desativados 81 garimpos ilegais que operavam no norte do Mato Grosso, sul do Pará e no Amazonas. Essas operações resultaram em apreensões e multas que totalizam R$ 75 milhões.
Nesta semana, operação que contou com fiscais do Ibama, agentes da Polícia Federal e da Fundação Nacional do Índio (Funai) desativou três garimpos ilegais de diamante no interior da Reserva Indígena Roosevelt, área de difícil acesso em Rondônia.
A retomada do garimpo em áreas exploradas no passado, como a Reserva Roosevelt, e a descoberta de novas fontes de riqueza coincidem com a curva de valorização do ouro. No ano passado, a onça - medida que equivale a 31,10 gramas de ouro - chegou a valer mais de US$ 1,8 mil.
Mesmo com um ligeiro recuo neste ano, a cotação internacional mantém-se acima de US$ 1,6 mil. No Brasil, a curva de valorização do metal continua em ascensão. No início deste ano, o preço do grama de ouro subiu 12%, chegando a R$ 106,49.
"É um valor muito alto que compensa correr o risco da clandestinidade e da atividade ilegal. Agora qualquer teorzinho que estiver na rocha, que antes não era econômico, passa a ser", explica o geólogo Elmer Prata Salomão, presidente da Associação Brasileira de Pesquisa Mineral e ex-presidente do Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), ligado ao Ministério de Minas e Energia.
Como a atual corrida do ouro é muito recente, os dados ainda são precários e os órgãos oficiais não têm uma contagem global. O secretário-executivo da Agência para o Desenvolvimento Tecnológico da Indústria Mineral Brasileira (Adimb), Onildo Marini, cita duas regiões em Mato Grosso consideradas estratégicas para o garimpo: o Alto Teles Pires, no norte do Estado, e Juruena, no noroeste mato-grossense.
"Tem garimpos por toda a região e tem empresas com direitos minerários reconhecidos para atuar lá", relata. Como ainda há muito ouro superficial que atrai os garimpeiros ilegais, a área tem sido alvo de conflitos. "Os garimpos mais problemáticos são os de ouro e diamante. Na Amazônia, incluindo o norte de Mato Grosso, estão os mais problemáticos e irregulares, tanto por estarem em áreas proibidas, como por serem clandestinos."
Dano ambiental - A nova onda garimpeira na região traz à tona um alerta ambiental que vai além da visível degradação de solos e margens de rios. O uso de substâncias como mercúrio e cianeto na separação e limpeza do mineral transforma o garimpo de ouro em uma das atividades mais poluidoras, contribuindo para a contaminação de peixes e animais silvestres e afetando a saúde humana.
O secretário-executivo da Agência para o Desenvolvimento Tecnológico da Indústria Mineral Brasileira (Adimb), Onildo Marini, diz que o problema da derrubada de árvores na Amazônia para exploração mineral, por exemplo, é minimizado ante os efeitos produzidos pelo uso indiscriminado do mercúrio. "Usado na hora de concentrar o ouro, de queimar o ouro, o mercúrio, evapora ou vai para os peixes. Essa é uma cadeia que ninguém sabe de fato qual importância tem, mas efeito é grave", ressalta o geólogo.
O coordenador-geral de Fiscalização do Ibama, Rodrigo Dutra, cita pesquisas segundo as quais o mercúrio usado nos garimpos vai sendo acumulado na cadeia alimentar local. "Peixes carnívoros acumulam o mercúrio e o ser humano, ao comer tais peixes, ingere tudo."
O geólogo Elmer Prata Salomão acrescenta que, além de mercúrio, os garimpeiros usam outra substância tóxica, o cianeto. "Usado corretamente, não tem problema, mas se deixar cianeto na água, sem neutralizar, todos os animais que bebem esta água vão morrer. O uso do cianeto na mineração é clássico, mas tem de ser feito com todas precauções e cuidados que a tecnologia oferece."