Herdeiros somos agora, das virtudes que perdemos. Essa frase sintetiza a origem dos males urbanos, que se disseminaram de modo que somos mesmos todos herdeiros das virtudes que perdemos por egoísmo, individualismo ou mau caratismo.
Ou porque nos deixamos levar pela moda, e a moda era (ainda é) de se levar vantagem em tudo. E nesse particular se deu aparência de ordem à desordem, e o serviço público em geral participou dessa trama dando-lhe guarida e até legalidade.
É o caso dos gabinetes militares. O cidadão chega ao Tribunal de Contas do Estado e se assusta; não sabe se está mesmo no lugar certo ou num quartel. Na recepção tem um pelotão, que a sociedade paga para fazer outra coisa.
E como dizia o grande Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta), “restaure-se a moralidade ou locupletem-se todos”, então estenderam-se os gabinetes militares para todos os poderes.
Homens que foram treinados para dar segurança pública, hoje carregam pastas e abrem portas. E há uma concorrência grande na tropa pela chance de executar a missão doméstica, que se produziu dois topos de policiais: um que está em forma e outro que está fora de forma, nos gabinetes.
Para o restante da tropa que rala e corre risco de vida, a outra tropa é a elite que tem padrinho forte – que lhe colocou num gabinete, longe das ações policiais arriscadas para as quais foi treinado.
Mas não é culpa deles não. Se olharmos pelo retrovisor vamos ver que o erro vem de lá atrás, com o velhos costume de achar que o estados é assim mesmo: existe para acomodar os amigos.
E quem de nós também não queria a boquinha? O problema agora é que está faltando na rua o que a gente mandou para dentro das salas atapetadas e refrigeradas. E aí chegou a hora de todos se reunirem para decidir se vale a pena tentar recuperar as virtudes que perdemos.