Nas aulas de “Elementos de Matemática”, no Departamento de Matemática da Ufal, lá no distante ano de 1975, o saudoso professor Petrônio Viana descontraia a turma contando piadas sobre a situação financeira dos professores.
- “Se vocês encontrarem um professor caído na rua não pensem que foi o coração. Ele desmaiou de fome mesmo”.
O professor Petrônio foi um gênio da Matemática, um profissional bem sucedido que se dedicou ao magistério como sacerdócio. Aliás, no Brasil é interessante: chama-se professor de pedagogo e pedagogo era o escravo que levava o filho do senhor de engenho para a escola.
Não é interessante? Começamos mal.
E bote mal nisso, pois fomos o último país da América Latina a ter universidade. Não é de estranhar que o país possa contar quase três meses de greve nas universidades, ainda que no resto do mundo isso possa ser inadmissível.
Não sei o que aconteceu, mas lembro-me de que, quando ingressei na Ufal em 1975, havia os professores profissionais e outras nem tanto, mas todos muitos bons. Foram meus professores na Ufal: Paulo de Castro Silveira – que era procurador do Estado; Lincolin Cavalcante, que era o presidente do Bando do Estado; Luiz Fernando Oiticica Lima, que era funcionário de carreira do Banco do Brasil; Evilásio Soriano, que era economista do Estado; Salomão de Barros Lima, que era ex-padre; José de Melo Gomes, que era servidor público estadual; e tantos outros.
Acho que por isso eles não tinham necessidade de fazer greve. Bom para nós, sem dúvida.
Veio então o direito de greve, que é legítimo, mas será que é legítimo milhares de alunos sem aula e a produção intelectual do país paralisada há três meses? Será que não existe aí o conflito entre o direito e o dever?
Por que os professores não deixam para deflagrar a greve no último dia do ano letivo? Assim se saberia que o inicio do ano letivo seguinte estaria condicionado ao acordo salarial e ninguém seria surpreendido pela greve no meio do ano.
Mas, infelizmente, não dá porque a greve de professores no Brasil faz parte do ano letivo. Isto porque há o conflito eterno entre o direito e o dever – que já não se sabe mais quando começa nem termina.