Parece que foi ontem, mas, há dez anos, Buchecha ficou sem Claudinho. Em tempos de ‘Tchê tchê rerê’ e ‘Tchu tchá tchá’, o ‘Tchurururu’ da dupla que criou clássicos da música pop brasileira como ‘Só Love’ e ‘Conquista’ faz muita falta, sabe?
“Financeira e emocionalmente, foi muito difícil me recompor. Parei de fazer shows, fui dispensado e algumas portas se fecharam na época”, lembra Buchecha sobre o acidente do dia 13 de julho de 2002. “Levei três anos para me curar de vez da depressão. Talvez o público possa se esquecer dele, mas eu e os familiares, jamais”.
Responsáveis por revolucionar o funk na década de 90, as músicas da dupla seguem eternizadas tanto na Praça da Playboy quanto em Niterói. O que Claudinho não imaginava é que sua herdeira daria sequência ao seu trabalho. Sua única filha, Andressa, de 13 anos, que prefere usar o nome artístico Lia, tinha só 3 anos quando perdeu o pai na tragédia da Via Dutra e agora se lança como cantora. “Só consigo me lembrar do enterro do meu pai. O resto eu apaguei”, lamenta a menina.
O sofrimento foi grande para Vanessa Alves, ex-mulher do cantor. Ela demorou quatro anos para se recuperar da perda e até hoje não encontrou um novo amor. “Eu estava muito mal e fiquei meio grogue de tanto calmante que minha mãe me deu. Me lembro de ver aquela massa de gente acompanhando o enterro”, recorda. Vanessa, que teria vencido na Justiça em 2011 um processo contra a concessionária NovaDutra, administradora da rodovia, não fala sobre dinheiro e, hoje, trabalha como recepcionista para manter a casa. Questionada sobre a herança da filha, a viúva esclarece que o dinheiro está preso na Justiça e só poderá ser retirado integralmente quando Andressa completar 18 anos — hoje, recebe pensão para cobrir despesas com saúde e educação da menina.
Para o ex-companheiro, a maior dificuldade foi tentar repetir o sucesso da dupla: “Antes, o funk era considerado ‘som de preto, de favelado’. Quando começamos, o estilo não tinha teclado, violão e baixo. Deixou de ser música de periferia, fomos os primeiros a ir para a TV. Os MCs até torciam o nariz e diziam que não éramos mais funkeiros”.
TAL PAI, TAL FILHA
Apesar de ter apenas 3 anos quando perdeu o pai, Lia passava tanto tempo brincando com Claudinho, criando um laço tão forte com ele, que dura até hoje. A mãe teve até que guardar os prêmios e fotos do cantor para que a garotinha não chorasse com tantas lembranças.
“Ele era muito grudado com minha filha. Ela era até mais colada nele do que em mim. Vivia rolando no chão, gostava de correr pela casa, jogar capoeira, essas coisas”, lembra Vanessa. “Ele era o pai e mãe dela. Era Claudinho quem trocava as fraldas e a única coisa que o tirava do futebol era a Lia. E olha que nem a agenda de shows conseguia afastá-lo do gramado”, diverte-se Buchecha.
Padrinho da menina, Buchecha quer homenagear seu melhor amigo e vai fazer de tudo para ajudar Lia a concretizar seu sonho de trabalhar com música. “Quando ela disse que queria cantar, achei que fosse brincadeira. Ouvi a música, achei a voz bonitinha, o Alex Bolinha produziu e pedi para meus amigos DJs tocarem para dar uma força a ela”, diz.
Agora a bola está com Lia. Com a missão de honrar o pai, ela já preparou sua primeira música, ‘Poderosa’, e está determinada a ir a todos os programas de televisão por onde o pai já passou.
Para não fazer feio, investe no funk melody e já escreveu outras seis músicas, entre elas ‘Meu Melhor Amigo’, em homenagem ao pai (veja o refrão ao lado em primeira mão). Além da óbvia influência de Claudinho, Lia é tão eclética que o que mais toca no seu iPod é Belo e Michael Jackson.
Por curtir músicas mais melosas, ela foge do estilo do funk até no guarda-roupa. “Não gosto de nada muito curto. Uso mesmo é All-Star, jeans e camiseta. Não sou patricinha. Sou uma ogra”, brinca.
Ciente de que seu trabalho sempre vai ser comparado ao do pai, para ela o mais difícil vai ser controlar o choro quando as pessoas começarem a lembrar histórias da dupla. “Às vezes, na escola, os professores imitam as dancinhas. Fico triste, mas também feliz, porque estão reconhecendo o trabalho deles. Geralmente, seguro o choro, dou uma risada forçada e tento mudar de assunto”, conta Lia.