Se há uma coisa com a qual não concordo no Congresso Nacional é CPI para apurar “escândalos”. Não dá para entender como parlamentares podem se reunir para punir parlamentares e até quem não é parlamentar.

Num ato unilateral transforma-se o Parlamento em delegacia de polícia; cria-se espetáculos pirotécnicos e amplia-se os escândalos – que se fabrica quando há interesse em atingir alguém, ou se oculta quando o interesse é proteger alguém.

Até agora eu não entendo o que o Sr. Carlinhos Cachoeira fez de errado. O tipo de relação que ele mantinha com autoridades é o tipo de relação que se mantém desde 1500 e não há quem mude esse “status quo”.

A CPI mista do Cachoeira investiga um governador porque vendeu uma casa e investiga outro governador porque comprou uma casa. Pense!

Enquanto isso, o Congresso está parado e com a paralisação remete-se ao esquecimento matérias importantes como o novo critério de distribuição do FPE – que o Supremo Tribunal Federal fixou prazo até 31 d e dezembro; a questão do indexador da dívida dos estados – que transforma a União em agiota; a reforma tributária, a reforma eleitoral e por aí vai.

Alagoas, por exemplo, tem uma dívida de R$ 7 bilhões. Imagine que há 15 anos, quando a dívida foi renegociada, Alagoas devia R$ 2 bilhões, já pagou R$ 3 bilhões e ainda está devendo R$ 7 bilhões.

Que matemática é esta?

Pois é, mas essa questão crucial que afeta a sociedade diretamente está em “banho Maria” porque o Congresso Nacional optou por investigar a casa que um governador (Marconde Perilo, de Goiás) vendeu e a casa que um governador (Agnelo Queiroz, de Brasília) comprou.

Sobre a relação do Sr Carlinhos Cachoeira com as autoridades da República, ela (a relação) só surpreende o hipócrita ou o inocente pueril.

O inocente pueril acredita que tudo pode ser diferente num sistema onde o dinheiro impera, inclusive, para se obter o mandato; e o hipócrita finge indignação sabendo que é assim mesmo que a banda toca e tocará.

O pior é que ambos trazem em comum o desejo de aparecer na mídia, enquanto novos Carlinhos Cachoeira se formam nas entranhas dos podres poderes que os homens exercem disfarçadamente – até que um novo escândalo venha à tona.