Se, em 1500, Pedro Álvares Cabral tivesse penetrado 50 léguas para interior do Brasil, também teria “descoberto” a seca.

Na literatura sobre a seca há conclusões científicas e deduções que, ainda que careçam de respaldo científico, tem sim lá as explicações convincentes.

Por exemplo: ao afirmar que Pedro Álvares Cabral poderia também ter “descoberto” a seca no Nordeste, a base é a constatação de períodos de longa estiagem em ano de números repetidos, tais quais 1500, 1877, 1922, 1955, 1966 – que foram anos de seca brava.

Como Pedro Álvares Cabral se limitou ao Litoral, quem “descobriu” a seca foi o jesuíta Fernão Cardim, em 1572.

Cardim saiu de Salvador descendo o Rio São Francisco e ao chegar onde hoje é a cidade baiana de Paulo Afonso, na divisa com Alagoas, localizou um grupo de índios famintos e flagelados que fugiam da seca.

Eram os índios que foram expulsos do Litoral alagoano, depois do episódio da morte do bispo Pero Fernando Sardinha, que foi atribuída aos gentios.

Mas, a seca não é fenômeno. Foi tratada assim por conveniências que vão desde a cultura corrupta para se desviar dinheiro público, até a necessidade de São Paulo pela mão-de-obra barata dos sertanejos, passando pela realidade do setor canavieira, onde 90% da mão-de-obra empregada sazonalmente no corte da cana vêm do Sertão.

Conclusão: se resolvessem o problema dos efeitos da seca, cessaria a chance de se desviar dinheiro público e faltaria a mão-de-obra para São Paulo se erguer como potência nacional e, também, para o corte da cana.

Foi a famosa “indústria da seca”, que enriqueceu muita gente e matou outros tantos também de abandono e fome.

E volta e meia o flagelo volta a incomodar, num contraste que exibe nitidamente a irresponsabilidade dos governantes nordestinos ao longo da história.

Hoje, 2012, ainda se fala nos efeitos da seca igual ao que o jesuíta Fernão Cardim revelou no seu diário encaminhado ao seu superior Manoel da Nóbrega.

- “Os animais morrem de fome e sede; homens, mulheres e crianças perambulam a procura de mitigar a sede e saciar a fome, sem nada encontrar”.