A recenseadora do IBGE se surpreendeu com minha resposta, quando me perguntou sobre minha cor e disse-lhe que sou negro.

-“O senhor é a primeira pessoa que eu entrevistei e que disse que era negro, sem ser” – falou-me.

Poderia estar contente, pois agora tenho direito à cota de negro, mas não estou; pelo contrário, sinto-me humilhado.

Sou contra a cota para negro; acho a cota para negro mais uma discriminação e não concordo com os que dizem que se trata de reparação.

Em primeiro lugar, o branco e o negro são invasores e se alguém neste País merece reparação é o índio – este sim, é daqui, estava aqui e foi violentado.

Em segundo lugar, nenhum branco foi preá negro na África; quem vendeu o negro como escravo foi o próprio negro.

Em terceiro lugar, a cota para negro reconhece o negro como sub-raça. Daqui para frente o negro doutor será visto como beneficiário dessa facilidade, enquanto o branco fica ainda mais valorizado como raça, porque o branco para ser doutor primeiro terá de superar a cota do negro.

Tem-se agora 20% para o negro; 20% para o deficiente; 20% para o velho; 20% para o índio e o branco – coitado – terá de superar a todos para se firmar, no que concluímos, o branco é mesmo superior porquanto está cercado por cotas adversas.

Desculpe-me, mas estou sentindo vergonha de ser negro. Da próxima vez vou dizer à recenseadora que sou incolor.

É melhor do que a humilhação de só poder ser gente devido à cota.