Amigos, recentemente me deparei com mais uma notícia absurda. Quando vi o título no Twitter nem acreditei. Mas era verdade. Ministro Joaquim Barbosa chamou o seu colega César Peluso de “caipira”, “brega”, “caipira”, “corporativista”, “desleal”, “tirano” e “pequeno”.

Respondia a uma afirmação despropositada de Peluso, que, em uma entrevista, afirmou o seguinte sobre Barbosa:

“Tem um temperamento difícil, não sei como irá conviver, primeiro com os colegas. Não sei como irá reagir com os advogados, pois tem um histórico desde o episódio com o Maurício Correia [ministro aposentado do Supremo. Em 2006, Joaquim Barbosa, no Plenário, sugeriu que o então presidente do STF fazia tráfico de influência]. Também não sei como irá se relacionar com a magistratura como um todo. Isso já é especular. Ele é uma pessoa insegura, se defende pela insegurança. Dá a impressão que de tudo aquilo que é absolutamente normal em relação a outras pessoas, para ele, parece ser uma tentativa de agressão. E aí ele reage violentamente”.

Peluso fez considerações desnecessárias sobre Barbosa. E Barbosa parece que confirmou a afirmação de Peluso reagindo com extrema violência verbal. Ao final, ainda afirmou que “Peluso, inúmeras vezes, manipulou ou tentou manipular resultados de julgamentos, criando falsas questões processuais ou simplesmente para tumultuar e não proclamar o resultado que era contrário ao seu pensamento”.

Esse é um sintoma de que vivemos um tempo complicado. As pessoas não conseguem conviver com as divergências e partem logo para a agressão. Na academia também é assim. Professores e seus egos inflados não suportam uma contestação e levam logo pro lado pessoal. Ficam com raivinha de qualquer discordância e agridem, fogem do debate, escondem-se.

Recentemente passei por dois eventos interessantes que mostram como é possível viver cordialmente e manter amizades e parcerias sinceras e honestas apesar de divergências teóricas e políticas. O primeiro desses eventos foi um debate com o deputado estadual Judson Cabral do PT de Alagoas realizado na FAL no Jaraguá.

O deputado deu uma palestra sobre ética e eu fiz um debate com ele. Coloquei-o contra a parede, apresentei uma visão diferente da dele sobre o papel do estado, contestei-o em diversos pontos. Ele respondeu, manteve sua visão e respondeu às perguntas da plateia. Tudo na paz e na maior tranquilidade.

Aliás, o deputado Judson Cabral é um dos poucos bons quadros que temos na Assembleia e esse evento apenas reforçou isso. Só o fato de o deputado dar a cara para bater, prestando contas de seu mandato e respondendo diretamente às pessoas que o elegeram mostra como a convivência sadia com a divergência é uma necessidade do regime democrático.

O outro evento é o que estou participando agora em João Pessoa. “Marxismo, realismo jurídico e direitos humanos”. Quem lê meu blogue pensa logo: “O que danado tu estás fazendo num evento sobre marxismo?”. Respondo que o evento não é só sobre marxismo, mas também sobre realismo jurídico, objeto de nosso estudo no grupo de pesquisa. Ademais, minha parceria intelectual com os professores organizadores do evento vem de longa data. Os Professores Doutores Enoque Feitosa e Lorena Freitas também pesquisam sobre pragmatismo jurídico. Por óbvio, a abordagem de cada um é diferente, um pendendo para o marxismo (estudo de Marx, não veneração de Marx), outro mais liberal e o outro mais realista.

Há algumas pessoas que me odeiam por causa de minhas ideias. O sujeito nem me conhece, mas me trata como inimigo só porque pensa diferente de mim. Esse tipo de gente intolerante e autoritária não admite ver meu nome num livro sobre marxismo, discutindo e defendendo o discurso filosófico de fundamentação dos direitos humanos. Esses membros da seita marxista não admitem a crítica a Marx. Na verdade, nem sequer admitem uma visão de mundo diferente da de Marx. Não são pesquisadores, são crentes.

Lamento! Meu diálogo continuará. A academia não é uma seita. Quanto mais eu entro em contato com visões diferentes das minhas, mais eu sinto necessidade de ler e de estudar. Quanto mais eu divirjo de meus colegas e parceiros profissionais, mais aprendo e reforço meus argumentos. Divirjo de ideias, não de pessoas.

Amigos, isso é a democracia.