Amigos, tenho a honra de publicar mais um belo texto do cientista político Rodrigo Leite. Uma ótima análise sobre a situação de Eduardo Campos. Abraços!

 

O enigma Eduardo Campos


Well come on and let me know
Should I stay or should I go? (The Clash)


Eduardo Campos é governador reeleito por Pernambuco. Difícil imaginar sua recente vitória em 2010, onde esmagou Jarbas Vasconcelos com 82,84% dos votos válidos, sem a generosa contribuição do Presidente Lula. Com altíssima popularidade no Nordeste, Lula sempre fez questão de vincular Eduardo Campos à sua imagem e despejou dinheiro federal naquele Estado. Mas o projeto nacional de poder do pernambucano, bem como a curiosa receptividade que a oposição do governo Dilma lhe dispensam, têm deixado muito petista melindrado.

Eduardo Campos não está saciado com a cabeceira do Palácio do Campo das Princesas, sede administrativa do governo de Pernambuco. Sabe, por outro lado, que sua carreira nacional não se concretizaria sem ameaçar as pretensões de perpetuação hegemônica no poder do Partido dos Trabalhadores. Uma ruptura entre o PSB e o PT é improvável hoje, mas o telefone da oposição é um número a ser muito bem guardado na agenda. Hospitalidade não faltaria. Não faz muito tempo que o Senador Aécio Neves, PSDB-MG, entrevistado por O Globo afirmou sobre Eduardo Campos “Nossa identidade é tão forte que em determinado momento nós vamos estar juntos e construir um projeto de Brasil”.  Eduardo retribuiu o aceno e lamentou ambos estarem em lados opostos do tabuleiro político. Além da estreita amizade com Aécio Neves, que remonta à campanha das “Diretas Já”, Campos é presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e possui seis governadores filiados em sua legenda. Essa posição lhe permite travar diálogos com a oposição nacional sem a autorização do Planalto. Esse é o caso da disputa eleitoral Belo Horizonte, onde os socialistas reúnem em torno de si o apoio de petistas e tucanos.

Sérgio Guerra, deputado federal e presidente nacional do PSDB estremeceu sua relação com Jarbas Vasconcelos na disputa pelo governo de Pernambuco em 2010. Além de não botar o time em campo pelo aliado do PMDB, Guerra foi acusado de ter feito campanha velada para Eduardo Campos. Com inegável flexibilidade política, o prefeito de São Paulo e fundador do PSD, Gilberto Kassab, farejando que Eduardo Campos pode ser uma alternativa de esquerda, direita ou centro, não teve parcimônia ao afirmar em fevereiro deste ano “Eduardo Campos é meu líder (...). No plano nacional Eduardo Campos é a grande liderança da nova geração e eu tenho a tranquilidade de confiar a ele minha condição de liderado.” A fama voa...

Analistas foram pegos de surpresa quando Jarbas Vasconcelos, principal opositor de Eduardo Campos, e respeitada voz de oposição ao Governo Dilma no Senado, em entrevista ao Folha-Uol em 22 de março, avaliou como positivo o governo de Eduardo, reafirmou que o projeto do governador é nacional, mas advertiu “Para galvanizar eleitorado no Sul e manter o eleitorado do Nordeste (Eduardo) precisa manifestar sua diferença do PT, porque Lula tem uma boa aceitação, mas não o PT.” Eduardo Campos sabe que Jarbas Vasconcelos, com sua credibilidade, pode atuar minando resistências ao seu nome fora de Pernambuco. Menos de uma semana depois, Campos visitava o gabinete de Jarbas em Brasília. Disseram não ter falado em política (políticos nunca falam de política) apenas olharam uma longa coleção de fotos do Senador nos idos de 1979, tempos em que ele e Miguel Arraes, avô de Eduardo, militavam no mesmo palanque.

Em 26 de março, o PSDB realizou as prévias municipais que escolheram José Serra para a disputa do governo da capital paulista. Serra manifestou o desejo de receber o apoio do PSB. Naquele dia Campos estava em São Paulo. Simultaneamente às prévias tucanas, numa reunião de mais de três horas na casa de Lula com presença da cúpula petista, o ex-presidente tentou convencer Eduardo a apoiar a candidatura de Fernando Haddad. Após a reunião o governador pernambucano declarou “O PSB só se decidirá em junho, durante as convenções”.

Diz a lenda que o cisma entre Eduardo Campos e Jarbas Vasconcelos se deu em 1992, nas eleições municipais de Recife. Jarbas Vasconcelos recusou a indicação do neto de Miguel Arraes como seu vice-prefeito. Hoje Eduardo tem 46 anos, talvez o bronze dos tempos tenha mostrado que o gesto de Jarbas não mereça ressentimentos. Pelo contrário, talvez mereça até o apoio de Eduardo Campos para que Jarbas Vasconcelos retorne ao comando de Pernambuco. Enquanto isso, Eduardo Campos pode alçar voos mais altos com o PT – ou apesar do PT.

Rodrigo Leite é cientista político
@_RodrigoLeite_