Na sua banca, não dava um bom dia de graça a ninguém e só atendia cliente rico  e determinado a comprar seu hortifruti sem reclamar. Achava-se o melhor dos melhores da feira, agarrava comprador que era da barraca vizinha, e não estava nem aí para nada nem para ninguém.

Tinha tudo, mas faltava algo: seu sonho, a política.

Tentado nunca tinha, mas tentado sempre estivera. E passou a pensar em como se projetar, já que simpatia não era a sua, definitivamente, melhor qualidade. Analisou perfil por perfil, e viu serem eleitos o Tião radialista, o Trololinha palhaço de circo, O Macalé que só sabia assinar o nome,  o Glaydson Karlos representando o público GLSBTXYZ...

Era isso: faltava-lhe um diferencial. Um nicho!

E foi aí que começou tudo. Seria, ele, o candidato vidente. Aquele a conversar com o além, a ter linha direta com o outro lado e a (re)viver momentos com aqueles que já atravessaram o horizonte de lá.

E assim deu pontapé na campanha. Montou tendinha na praça, estampou a pulso sorriso na cara, encarnou o Herculano Quintanilha e se sentia o próprio “Astro da Banca”.

O bonitão das tapiocas!

E haja interação com a outra vida.

Para cativar os eleitores, dizia receber e fazer baixar de tudo, de cabloco a estadista, de sereia a matuto, de índio à médico alemão da segunda guerra.

Dizia ter recebido conselho de tudo que é bamba já finado. De nomes nacionais, a locais, inclusive internacionais.

Por exemplo, Gandhi, com quem afirmava ter tido longa conversa de orientação, teria sido responsável por sua nova versão, paz e amor.

Dizia não ter gostado do JK, porque o achava altivo demais.

Teria adorado o papo com o Kennedy, sujeito “experto”, chegado numa conversinha...

Na tendinha, chovia eleitor, chovia não, chuviscava... E era ele a dizer que do além vinha a mensagem de sua vitória. Todo mundo do mundo natural e, também todo mundo do mundo sobrenatural, estava com ele. Era vitória na certa. Os demais não botavam medo, já que eram... ah, deixa prá lá!

Eleição chegando, “apoio” crescendo de tudo que é lado.

Dia do pleito, faixas, cartazes, propaganda, boca de urna.

O “Astro da Banca” a comemorar vitória. Antes da urna fechar, recebeu um telegrama espiritual do Rui Barbosa, parabenizando-o pela conquista.

Confiante na vitória esmagadora, nem ele foi votar nele mesmo.

Afinal, para quê, se Getúlio já tinha confirmado que todos os seus ministros do STF estavam engajados na campanha.

Era só esperar e correr para o abraço.

Abertas as urnas, decepção no comitê central de campanha.

O “Astro da Banca” perdeu feio. Menos de 5% dos votos. Derrota fragorosa.

Triste, cabisbaixo, revelou a todos que era tudo mentira. Não recebia espírito nenhum. Fizera tudo para ser diferente! Até ele estava cansado dele mesmo.

Sem festa e sem eleição foi dormir. E aí recebeu uma mensagem de verdade.

Um pesadelo? Acordou aos gritos!

No sonho, uma de suas falsas entidades de renome, mas agora em verdade manifestada, dizia a ele que mentir era feio.

Muito feio!

 

 

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