Faz tempo, mas muito tempo mesmo, lá pelos anos de 1600 e não-sei-quanto, Gregório de Matos escreveu este soneto:

Neste mundo é mais rico quem mais rapa
Quem mais limpo se faz tem mais carepa
Ao nobre a língua o vil decepa
E o velhaco maior sempre tem capa.

No episódio da reportagem do Fantástico sobre a corrupção no departamento de compras de um hospital público no Rio de Janeiro, a sensação que se tem é que vai sobrar para o diretor – que permitiu o acesso do repórter à repartição na qual não tem vínculo.

O diretor cometeu vários crimes – é o que eles dizem. O senador Pedro Simon advertiu da tribuna do Senado que já, já o diretor entrará pelo cano. Já se diz por aqui: como é que ele (diretor) permitiu que um repórter assumisse um posto privativo do servidor público?

Pois é; é a tal da prova obtida sem autorização judicial, como se pudesse existir dois tipos de provas.

Aqui em Brasília, na investigação sobre a denúncia de pagamento de propinas no governo do José Roberto Arruda, um conselheiro do Tribunal de Contas do DF, denunciando no esquema, conseguiu uma liminar e não foi depor.

Ora, se uma peça tão importante tal qual o conselheiro do TC do DF não vai depor como então vai se poder apurar a denúncia com profundidade?

Por essas e outras é que eu acho que vai sobrar para o diretor do hospital, por “ter se excedido na honestidade” – ser honesto no Brasil tem também os seus limites, e o diretor – dizem – extrapolou os limites ao permitir “um elemento estranho” na repartição.

Quem acha que vai sobrar para o diretor levante a mão! Podem baixar.