Recordo-me agora o que disse um editor da revista The Economist, para entender o que está se passando com a imprensa brasileira – que copia a imprensa norte-americana e, por via de consequência, tem repetido os mesmos erros.

Perguntaram ao editor da The Economist qual o milagre de ele ter dobrado a tiragem da revista – ele assumiu a revista com 500 mil exemplares e elevou-a a 1 milhão.

Quem esperava uma resposta técnica-científica, com divagações acadêmicas, se surpreendeu; o editor da The Economist creditou a razão do seu sucesso “aos grandes jornais e os grandes jornalistas” – que só publicam entretenimentos.

Entenda-se por entretenimentos algo mais que cultura e diversão. São entretenimentos também as matérias – política, econômica, esportiva, etc. – onde o autor publica o que ele ou o grupo que representa deseja que acontecesse e não o que necessariamente aconteceu.

Com o privilégio de acompanhar “in loco” os acontecimentos políticos nacionais, foi com surpresa que li na imprensa o que jamais se passou em plenário durante a votação da indicação do diretor da Agência Nacional de Transporte Terrestre.

Infelizmente não sei dizer quem mentiu mais; só sei que nada do que li até agora representa a reprodução do que de fato se passou em plenário naquela tarde-noite.

Por exemplo: quem comandou a derrota do governo no caso da ANTT foi o senador Eduardo Braga – que, de tão empenhado, pediu voto até para o senador Jarbas Vasconcelos, que a priori e a posteriori vota contra o governo devido à briga regional com o PT e o Lulismo em Pernambuco.

Mas, o que publicaram foi que a derrota do governo foi comandada pelos senadores José Sarney, Renan Calheiros e Romero Jucá.

Mentira.

Li também que, por conta disso, a presidente Dilma decretou o fim da era Sarney, Renan e Jucá, conforme “uma fonte” que não quis se identificar.

Na condição de jornalista com 38 anos de experiência aviso aos leitores que a notícia onde a fonte “não quer se identificar”, de ordinário, é chute ou reproduz a opinião do autor da matéria – o que é o “entretenimento” a que se referiu o editor da The Economist.

Esse mal se disseminou pelo país de tal forma que contaminou alguns colunistas outrora confiáveis. Ora, um governo que diz não precisar de Sarney, de Renan e de Romero Jucá das duas, uma: é suicida ou bravateiro.

Como não me consta que a presidente Dilma seja uma coisa ou outra, então a conclusão é de que a matéria é apenas mais um “entretenimento”, mais uma mentira destinada a se tornar verdade se o leitor for incauto. Uma pena, porque cada vez mais está sobrando menos jornalistas.

O que se deu aqui, na semana passada, foi a presidente Dilma efusiva porque viu os senadores Renan Calheiros e Eduardo Braga, juntos, tricotando no melhor do ti-ti-ti. Dilma abraçou os dois e pediu para que estivessem sempre juntos.

O que se viu aqui, na semana passada, foi o senador Eduardo Braga destacando a liderança do senador José Sarney – e tudo isto em público, mas que não teve espaço na mídia porque o pessoal só está preocupado em publicar “entretenimentos”.

Está aí a explicação para a queda vertiginosa da tiragem dos jornais. Lamentavelmente, alguns jornalistas se transformaram em produtores do fato que publicam e, pior, do fato que nunca existiu – mas que eles gostariam que tivesse existido.