O pessoal que defende a legalização ou a descriminação do aborto padece de uma contradição insanável, especialmente quando se trata do argumento dito feminista que se baseia na autonomia da vontade da mulher.

Vejam só que coisa mais interessante. Os mesmos feministas que defendem o aborto como manifestação da autonomia da mulher, além de esquecerem da dignidade do feto, esquecem também da responsabilidade do homem! É isso mesmo. O texto que foi aprovado em comissão de juristas para elaboração do novo código penal fala em “condições psicológicas da mulher”! E o pai?

Segundo a Comissão de Juristas, que elaborou a proposta, o Artigo 128 ficaria com esta redação:

Art. 128. Não há crime se:
I - se houver risco à vida ou à saúde da gestante.
II - a gravidez resulta de violação da dignidade sexual, ou do emprego não consentido de técnica de reprodução assistida;
III - comprovada a anencefalia ou quando o feto padecer de graves e incuráveis anomalias que inviabilizem a vida independente, em ambos os casos atestado por dois médicos.
IV - por vontade da gestante até a 12ª semana da gestação, quando o médico constatar que a mulher não apresenta condições psicológicas de arcar com a maternidade.
§ 1º Nos casos dos incisos II e III, e da segunda parte do inciso I, o aborto deve ser precedido de consentimento da gestante, ou quando menor, incapaz ou impossibilitada de consentir, de seu representante legal, do cônjuge ou de seu companheiro.

Amigos, essa é uma das coisas mais reacionárias que já vi! Destaque para a parte em negrito, onde se vê que não há nenhuma participação do pai no processo da decisão drástica de abortar um filho. Já tinha destacado isso faz algum tempo no Twitter. O pai está completamente ausente desse debate por uma só razão. O mais puro e abjeto machismo. Como? Os feministas são machistas? Isso mesmo. Não é contraditório?

A ideia de que o papel do pai na relação com os filhos é a ausência e de que ele não é responsável pela concepção está na raiz da sua exclusão do debate sobre o aborto. A premissa oculta do argumento pela autonomia feminina é o de que o filho é um problema da mãe, não do pai. Por isso, ele não tem nada a ver com a questão. Deve ficar de fora da decisão. Muitos defensores do aborto até brincam: “se o homem ficasse grávido, o aborto já teria sido aprovado”.

Em tempos de emancipação feminina e de luta contra dupla jornada de trabalho, os homens são convocados a participar das tarefas da casa e da criação dos filhos. A mulher não pode arcar sozinha com seu trabalho e com tarefas domésticas. Os homens estão sentindo necessidade de ajudar em casa e de cuidar dos seus filhos. Quanto aos pais separados, são vários os casos em que a guarda compartilhada é a medida escolhida pelos pais e, com a independência financeira das mulheres, a tendência para que isso seja regra é evidente. Em tempos de resgate da figura paterna e de chamar os pais à responsabilidade da criação dos filhos, a defesa do aborto pela vontade exclusiva da mulher é um absurdo.

Mas o discurso dos feministas sobre o aborto ignora tudo isso. Eles são os verdadeiros reacionários. Querem manter a ideia de que as mulheres devem arcar sozinhas com a responsabilidade da criação e muito mais. Devem arcar sozinhas com a decisão sobre se devem ou não, matar seus filhos!

O pai, alijado dessa responsabilidade, ou aproveita sua liberdade de macho e despreza completamente o tema, colaborando para a continuação desse ciclo, ou sofre como um condenado sem poder interferir numa decisão que vai ceifar a vida de um fruto seu.

Eis aí um dos argumentos mais complicados pró-aborto. Ignora questões básicas e aparece como o grande defensor da liberdade das mulheres. Não vê que está colaborando para a cultura machistas que o feminismo tanto despreza.