(Atualizado às16h50min)
Todos os que foram presos até agora pela “Operação Espectro” não teriam feito o que fizeram se não contassem com a conivência dos “agentes públicos”. Logo, esses – os “agentes públicos” – são o “xis” da questão e é de se estranhar que não estejam presos também – pior: sequer tiveram os nomes divulgados.
O Jornal divulgou com chamada de primeira página as patentes dos “agentes públicos” e circula à boca miúda os nomes dos responsáveis pelo golpe que lesou o Estado em R$ 300 milhões. Até aqui em Brasília já se sabe os nomes dos “agentes públicos”- mas, a sociedade alagoana não sabe.
São todos culpados, mas os que foram presos até agora são os menos culpados – ainda que a ideia do golpe contra o erário tenha partido deles.
Essa superproteção para os “agentes públicos” culpados deixa a sociedade desconfiada e, ao mesmo tempo, insatisfeita com a operação que resultou na prisão – apenas – dos menos culpados. Trata-se de quando a emenda fica pior que o soneto e o “Espectro” é apenas “Espectro” e não revela a história por inteiro.
Se não era para mostrar todos os culpados, a sociedade agradece mas dispensa a “meia-história” porque já sabe quem tramou o golpe e quer agora saber quem, no serviço público, o aceitou, concordou, autorizou e pagou.
Os empresários e os contadores presos são piabas no mar de tubarão – que permanece intocável e protegido, pelo menos até que se revelem nos mínimos detalhes. Na “Operação Espectro” está faltando um pedaço grande – que é o tubarão.
As piabas, essas, já estão fervendo na brasa. Mas, por dever de justiça, não devem pagar o pato sozinhas.
RECEITA DE UM GOLPE FATAL
Não sei; só sei que é assim: uma ideia, um cúmplice e está posta a receita para se desviar dinheiro público; a engenhosidade humana chega às raias do absurdo, mas o absurdo fica maior quando o cúmplice é o agente público pago para impedir exatamente o que crime que ele praticou.
Mas, isto não é coisa recente no serviço público brasileiro tão vulnerável a golpes no erário. O músico satírico Juca Chaves compôs na década de 1960 uma música que diz assim:
Vamos fazer contrabando/ Contrabando de café
Vou montar um novo bando/ Vou dizer como é que é
Basta ser homem de idade/ Do ex-Distrito Federal
Frequentar a sociedade/ E a coluna social
Brasileiro de malícia/ Tem que ser contrabandista
Quem apanha da polícia/ É estudante e comunista
Juca Chaves foi preso várias vezes e teve shows cancelados à força; Juca Chaves envelheceu, quase não se houve mais falar dele – reside em Salvador – mas a prática permanece com novos personagens, novos bandos e novos golpes.
No caso da operação do Ministério Público, que investiga o desvio de R$ 300 milhões mediante fraudes em licitações da Secretaria de Defesa Social, o golpe tomou dimensões porque a sociedade tem em conta de que está sendo protegida por quem ela paga para proteger.
E não está. Já não se sabe mais de que lado vem o crime.
Esses golpes, em si, parecem naturais; as operações policiais parecem rotinas que robustecem o noticiário da mídia e depois somem da mesma forma como apareceram – de repente; de supetão.
Diz-se que o ex-secretário Paulo Rubim, depois de denunciar o golpe e descobrir os “agentes públicos” envolvidos, optou por se demitir – afinal, está aposentado e não é daqui, de Alagoas, para encarar a barra.
Já se sabia que o melhor contrato com o Estado é para fornecer alimentos para os presos – que são “clientes” sem direito a escolher: ou come o que tem ou fica sem comer. Só não se sabia era que o alimento vendido ao Estado, mulitas vezes, era fictício.
Uma “ilusão de prato”, que permitiu à “ilusão de ótica” aceitar contratos de empresas fornecedoras fantasmas.