Tudo o que funciona em Alagoas, no que se refere às ações governamentais, é obra do governador Luiz Cavalcante – que se elegeu em 1961 e governou até 1965. Conhecido como “major Luiz”, embora fosse general da reserva do Exército, ele criou a Ceal, a Casal, o Banco do Estado, as adutoras, a Bacia Leiteira e até o Trapichão é idéia dele.
Depois dele, o caos. Dos que lhe sucederam, uns não ampliaram as ações que herdaram e outros fizeram pior: destruíram o que encontraram. Houve um pequeno intervalo nessa ação nefasta, com o governo Guilherme Palmeira, que ampliou o projeto das adutoras, mas depois veio a derrocada.
Na década de 1990, que o economista e professor Cícero Péricles chama de “década perdida”, eles destruíram o Banco do Estado, a Codeal, a EDRN, a Epeal, a Emater, a Central de Inseminação Artificial de Batalha e a Bacia Leiteira, numa política de “arrasa terra” que só pode ser praticada por um inimigo.
Ou irresponsável.
Alagoas chegou ao fundo do poço. A Ceal foi trocada por três folhas de pagamento dos servidores – que acumulavam quase dez folhas atrasadas.O governo federal nomeou um coronel do Exército (Roberto Longo), especialista em finanças, como interventor para colocar ordem na desordem financeira e fiscal que levou o Estado à bancarrota.
Também na década de 1990 houve a intervenção na Polícia Militar, porque a irresponsabilidade governamental havia contaminado a corporação.
Tudo parecia sem saída, mas o Estado não é um ente concreto e não pode quebrar – o Estado não quebra, por mais que seja subtraído em tenebrosas transações.
Quando o jornal “Valor Econômico” destaca Alagoas pelo atraso endêmico, há de se perguntar:
1) Que outro Estado no país guia-se ainda por projetos elaborados há 50 anos?
2) Que outro Estado no país sofreu intervenção federal na Secretaria da Fazenda?
3) Que outro Estado do país teve um governador afastado por pressão popular?
As respostas às perguntas são também respostas para o caos que se vive na relação com os demais estados da região. Alagoas tem a maior reserva do país de gás natural, dissociado do petróleo, mas não possui a termelétrica – que está em Pernambuco, movida com o gás alagoano, porque Pernambuco não produz gás.
Existem seis reservas de sal-gema com valor comercial no país, mas nenhuma se iguala à reserva de sal-gema em Alagoas – que tem 99% de pureza. Submetida ao processo de eletrólise, o sal-gema se decompõem em cloro e hidrogênio – e em centenas de subprodutos.
Mas, o então governador Guilherme Palmeira não conseguiu viabilizar o Pólo Cloroquímico porque na disputa com o Rio Grande do Sul, os gaúchos – pasmem! – tiveram o apoio de “ambientalistas” alagoanos.
Em 1981, numa audiência com o então ministro da Indústria e Comércio, Camilo Pena, o governador Guilherme Palmeira ouviu estarrecido o ministro dizer que recebeu um abaixo-assinado de “ambientalistas alagoanos” pedindo para o governo não aprovar o pólo alagoano “porque tinha sido construído numa área de mangue, em Marechal Deodoro”.
E o ministro entregou o “documento dos traíras” para o Guilherme ler.
Ainda no governo do Guilherme, o saudoso e competente Manduca (Manoel Cavalcante), o pioneiro na expansão do turismo em Alagoas, apresentou o projeto para “interiorização do turismo” – que foi vetado no governo seguinte, sob o argumento de que o turista visita Alagoas pelas praias.
Absurdo que não se pode caracterizar fácil; não se sabe se o absurdo se dá por incompetência ou má fé.
E mesmo assim, apesar do veto, o turismo no interior de Alagoas se expandiu em Piranhas. E poderia ter se expandido mais, se não tivessem acabado com o Festival de Cinema de Pendo; se tivessem preparado a infra-estrutura sugerida pelo Manduca para se atingir Delmiro Gouveia – o berço da industrialização do Nordeste, que ninguém explora; Água Branca com os pardieiros do século 18 e Mata Grande com o pico culminante do Estado.
Se Pernambuco tem Gravatá, Alagoas tem Mata Grande. E se Gravatá se desenvolveu para o turismo, foi porque em Pernambuco não teve governador sem visão ou consideração.
A matéria do jornal “Valor Econômico” é apenas a notícia de uma tragédia anunciada. Afinal, queria-se o quê se nesses 50 anos nada fizeram – ou melhor: só fizeram destruir tudo?